Uma das constantes preocupa\u00e7\u00f5es do Santo Padre Bento XVI diz respeito \u00e0 liturgia. Ultimamente, ou desde a Reforma lit\u00fargica de Paulo VI, como todos sabem, a Liturgia Romana tem sofrido duros golpes por parte de quem n\u00e3o lhe reconhece a dignidade devida. Muitos padres e comunidades acham que podem \u201cfazer\u201d sua pr\u00f3pria liturgia, pois que acrescentam e tiram aqui e ali, tendo como \u00fanico conselheiro e guia o pr\u00f3prio alvedrio ou o gosto pessoal, de modo a descaracterizar o que recebemos da Igreja e, em \u00faltima an\u00e1lise, dos Ap\u00f3stolos e do pr\u00f3prio Senhor. Quem poder\u00e1 negar que uma onda de atitudes e gestos estranhos invadiram a Liturgia Romana nos \u00faltimos anos? \u00c9 o barulho ensurdecedor dos cantos e instrumentos musicais, as letras dos cantos que nada tem a ver com o senso lit\u00fargico, o padre que se faz de showman, os \u201cbom-dias\u201d despropositados do padre e seu linguajar, muitas vezes, nada apropriado ao culto divino, as adultera\u00e7\u00f5es de ora\u00e7\u00f5es e do sentido aut\u00eantico da celebra\u00e7\u00e3o, a \u201cbate\u00e7\u00e3o\u201d de palmas do in\u00edcio a fim da Missa, as dan\u00e7as descabidas, a invas\u00e3o de prociss\u00f5es (\u00e9 prociss\u00e3o disso, prociss\u00e3o daquilo…), etc.

O Santo Padre, na Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum, tocou na quest\u00e3o dos celebrantes que, depois da Reforma lit\u00fargica e n\u00e3o a compreendendo bem, se sentem obrigados \u00e0 criatividade, e disse que tal mal entendido \u201clevou frequentemente a deforma\u00e7\u00f5es da Liturgia no limite do suport\u00e1vel\u201d (Carta aos Bispos). Atingimos, na express\u00e3o do pr\u00f3prio Papa, o\u201climite do suport\u00e1vel\u201d. O Papa n\u00e3o podia ser mais claro em sua desaprova\u00e7\u00e3o aos abusos lit\u00fargicos.

O mais preocupante diz respeito \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o e trasmiss\u00e3o da aut\u00eantica f\u00e9 cat\u00f3lica e ao vigor espiritual dos fi\u00e9is. Todos sabemos, e a tradi\u00e7\u00e3o da Igreja nos d\u00e1 prova disso, que \u201clegem credendi lex statuit orandi\u201d. A f\u00e9 se alimenta da liturgia bem celebrada. N\u00e3o \u00e9 \u00e0 toa que as grandes reformas ao longo da hist\u00f3ria da Igreja tiveram como eixo e ponto dinamizador a liturgia. A prop\u00f3sito, assim se expressou Jo\u00e3o Paulo II: \u201cA tradi\u00e7\u00e3o e a experi\u00eancia milenar da Igreja nos mostram que \u00e9 a F\u00e9, celebrada e vivida na liturgia, que alimenta e fortifica a comunidade dos disc\u00edpulos do Senhor (Discurso,11 de maio de 1991).

Se a vida espiritual dos cat\u00f3licos hoje precisa de novo vigor e de uma f\u00e9 mais profunda, ser\u00e1 que n\u00e3o devemos voltar a celebrar com mais dignidade os mist\u00e9rios da nossa salva\u00e7\u00e3o? Uma orienta\u00e7\u00e3o que vem do Santo Padre Bento XVI, n\u00e3o tanto de suas palavras como de seu exemplo pr\u00e1tico, ensina-nos a preservar o sentido do mist\u00e9rio em nossas celebra\u00e7\u00f5es. Celebrar a liturgia deve constituir uma verdadeira mistagogia, isto \u00e9, uma introdu\u00e7\u00e3o ao mist\u00e9rio do Senhor, de cuja vida somos chamados a participar. E isso com todo o respeito!<\/p>\n\n\n\n

Por: Pe. El\u00edlio de Faria Matos J\u00fanior
Vig\u00e1rio Paroquial da Par\u00f3quia Bom Pastor
Juiz de Fora, MG<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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