Na Igreja Católica, é apresentado a todos o chamado à santidade, e alguns dos membros da Igreja que a alcançam também são reconhecidos para dar testemunho aos demais fiéis e receber pedidos de intercessão junto de Deus. São os santos canonizados, que passam por um processo de reconhecimento de suas virtudes e obras para chegar aos altares. No Brasil, são exemplos os Mártires de Cunhaú e Uruaçu, frei Galvão e irmã Dulce dos Pobres.
Nesse período de reconhecimento das virtudes, é feito um processo de pesquisa sobre a vida dos candidatos a beatificação, chamado de inquérito. Quem atua nessa investigação é o postulador da causa de beatificação e canonização, muitas vezes confundido com uma espécie de advogado de candidatos aos altares.
Atuando em 45 das cerca de 100 causas envolvendo candidatos que nasceram ou viveram no Brasil, o italiano Paolo Vilotta concedeu entrevista ao Portal da CNBB sobre alguns aspectos das causas de beatificação e canonização. Ele conta do amor pela vida dos santos que o fez trabalhar com as pesquisas sobre os “presumidos candidatos” a subir aos altares.
Vilotta sempre teve interesse pela história das religiões, o diálogo entre as religiões, as culturas religiosas, a filosofia e a psicologia.
“Em torno disso, dos meus estudos, também a questão do Santos. Para o meu sentido, eu gostava também da Teologia. O amor pela vida dos santos nasceu porque o Evangelho pode ser traduzido em cada figura. Em cada um de nós, podemos colher uma pertença, podemos nos identificar juntamente com o exemplo do Evangelho. Isso foi a minha paixão para as causas e que agora continua no trabalho como postulador”.
Paolo destaca ainda que, durante o processo de investigação há várias oportunidades para as dioceses, no sentido das vocações, da conversão e até cultural.
A causa de beatificação e canonização não é somente ganhar um lugar, porque eles já ficam santos. A avó de cada um de nós, a mãe, são santos na vida. Quando tem essa grande fama de santidade, como a irmã Dulce, foi uma coisa espontânea, grande, e a Igreja pede para estudar, fazer um inquérito, uma pesquisa para ver se tem um conteúdo, sobretudo se tem uma fama espontânea muito grande. Irmã Dulce foi esse exemplo, como também muitas outras.
Mas o que significa uma causa de beatificação, o caminho da causa da beatificação e de canonização? Para mim, o que é importante evidenciar: caminho, significa o que acontece durante a pesquisa, o que acontece durante o evento. Acontece que nós temos um mar de oportunidades para uma diocese: pode ser a oportunidade de vocação, oportunidade de conversão, oportunidade cultural, porque quando você fala de uma pessoa, de um personagem, começa a valorizar também meu professor naquela cidadezinha do interior, não sei, do Piauí, que ninguém poderia conhecer.
E tem toda esta possibilidade de chegar depois com a confirmação da Igreja, com a venerabilidade, que eu acho o momento mais importante de um percurso das causas. A Igreja vai falar ‘sim, vocês pode ter como exemplo verdadeiro essa pessoa’. Depois está o caminho da beatificação e da canonização, a comprovação de um milagre e de um segundo milagre. Isso Igreja pede para um culto litúrgico, somente essa a diferença. Um (beatificação) é local e outro é universal (canonização).
A coisa linda é que uma pessoa que viveu aqui ou qualquer lugar do mundo tem uma possibilidade também de uma ressonância mundial. E isso abre a porta para muitas coisas sobretudo no espírito do Evangelho, que significa que é para todos.
Ele comenta sobre a relação de devoção do Povo brasileiro, que tem sido agraciado com milagres que levam santos e beatos aos altares.
Agora nós falamos do Brasil, é claro que o milagre aconteceu aqui, mas não é o santo que faz o milagre, mas você pede uma intercessão de Deus em qualquer milagre. A devoção, a oração para aquilo que é o ensino geral, aquela oração sem prejuízo, sem um pedido oracional, a oração pura, a oração espontânea e, sobretudo, a oração como o Pai Nosso, que se coloca na vontade. Aquela pureza permite, seguramente, um encontro mais próximo. E agora eu acho que se muitos casos aconteceram no Brasil, é porque aqui também está uma mentalidade nesse sentido.
E ainda dá indicações sobre os passos para as dioceses iniciarem os procedimentos para uma causa de beatificação e canonização. A primeira ação é saber se há uma verdadeira fama de santidade:
Normalmente, a primeira coisa que se pergunta sobre a um presumido candidato, como é chamado, é perguntar para um bispo ou um representante do bispo e verificar, absolutamente a primeira coisa, se tem uma verdadeira e fundada fama de santidade.
A fama de santidade é quando uma pessoa não somente pensa que aquele homem ou aquela mulher, é um herói. Mas que vai rezar por ele, que vai meditar sobre a vida, vai ao túmulo, coloca também um pedido. Se uma fama continua viva, o bispo, com a normativa da Igreja, pode começar não um processo, mas um inquérito.
Por que é importante evidenciar que não se chama processo?
Por que falam que não é um processo? Cada processo tem um juiz. O único juiz aqui nas causas de beatificação e canonização é o Papa. E nesse inquérito, a diocese é convidada, segundo as normas, a recolher todas as informações com testemunhos e documentos para ajudar o estudo depois em Roma, quando é uma grande responsabilidade de uma diocese ou arquidiocese nesse caminho, para chegar à verdade. Aquilo que se pede, é a verdade.
Postulador, não advogado
O trabalho de um postulador não é como o de um advogado. O postulador é o representante, o promotor de uma causa diante das instituições ou outra autoridade. Também o postulador tem uma obrigação ético-moral de individuar se tem um problema e se confrontar também com o bispo. Ele não pode defender como é num processo civil ou penal, no qual você tem direito à defesa mesmo se tem culpa. Nesse caso, não, se necessita verificar e mostrar. Isso é uma grande diferença, porque a finalidade, seja de um autor da causa, do postulador, de um bispo – também na fase romana do estudo em Roma -, é verificar se tudo é verdade.
Fonte: CNBB