Frequentemente lembramos que a Bíblia é “o livro da catequese por excelência”. É ela que nos abre a porta de uma especial comunicação com Deus e, é claro, temos que apresentá-la intensamente na catequese. Uma verdadeira intimidade com a Bíblia nos aproxima do projeto do Reino e nos prepara para podermos apresentar aos catequizandos um panorama da história em que a salvação nos foi oferecida.
Catequistas precisam trazer a Bíblia no coração e saber apresentá-la de um jeito adequado aos objetivos de cada texto e à situação dos nossos catequizandos. Nem sempre isso nos parece fácil. Não se trata de um livro comum. Além de ser uma biblioteca de 73 volumes, a Escritura não tem o mesmo estilo do começo ao fim, foi escrita dentro de um povo com uma cultura que não é igual à nossa e tem textos criados em séculos diferentes, cada um voltado para objetivos relacionados com o que o povo estava vivendo no momento. Falamos que Jesus é o Filho de Deus encarnado, participando de uma vida humana dentro das circunstâncias de seu tempo . Mas a Bíblia toda está encarnada na história de um povo que ia percebendo a mensagem de Deus através dos acontecimentos que marcavam sua caminhada.
Outras dificuldades podem ser percebidas. Há estilos literários diferentes que precisam ser bem entendidos e não simplesmente interpretados ao pé da letra. Muita gente gente fica inquieta quando dizemos que algo na Bíblia não aconteceu bem assim como está sendo descrito, que este ou aquele texto bíblico está utilizando uma linguagem simbólica. Alguns então acham que estamos dizendo que o que ali se lê não é verdade, que não estamos acreditando no que está no nosso livro sagrado. Mas linguagem simbólica não é mentira, é um modo mais profundo de apresentar uma verdade mais ampla, aplicável em situações variadas da vida de cada um ainda hoje. Apresentar corretamente e com muito amor a mensagem bíblica desses textos é fundamental para partilhar com os catequizandos o respeito, a gratidão e a alegria que sentimos ao mergulhar na Palavra de Deus.
Para fazer isso precisamos desenvolver três aspectos básicos no contato com a Bíblia:
- Aprofundar o conhecimento dos textos, estudando cada livro da Bíblia a partir de informações importantes que nos são oferecidas por especialistas no assunto que sabem expressar numa linguagem simples o que ali está sendo comunicado. Esse estudo vai nos apresentar a história do povo para podermos entender o que, na época em que cada texto foi escrito, se queria comunicar. É um conhecimento importante para evitar deturpações da mensagem e leituras fundamentalistas que depois podem levar muita gente a entrar em crise por achar que a Palavra de Deus contraria a ciência.
- Trazer a mensagem bíblica para a nossa vida, percebendo como aquilo que foi escrito há tanto tempo se relaciona com o que estamos vivendo agora. Por exemplo: se o texto nos fala de Jesus curando um cego, vamos nos perguntar quais são as “cegueiras” do nosso tempo e da nossa vida, o que precisamos enxergar melhor e como podemos ajudar outros a ver com mais clareza o que Deus nos pede hoje nesta nossa vida cotidiana.
- Desenvolver o hábito da leitura orante da Bíblia, considerando que não se trata só de um livro de estudo, mas de um espaço para uma conversa íntima e profunda com Deus.
Pessoalmente, gosto de fazer uma leitura orante adaptada em 4 passos:
1) Ler o texto, as notas de rodapé, as explicações disponíveis, para compreender melhor o que se quis ali comunicar.
2) Ler o texto como se estivesse lá, naquela época, tentando perceber como as pessoas se sentiam diante da mensagem ou do fato apresentado
3) Imaginar como se passaria uma mensagem semelhante na nossa realidade, que personagens e que linguagem o texto teria se fosse escrito hoje, o que ele está nos querendo dizer sobre o que vemos acontecer agora
4) Conversar com Deus sobre o que foi lido e sobre o que na minha vida se relaciona com a mensagem percebida.
Para ser catequista se necessita uma intimidade profunda e amorosa com a Palavra de Deus, acompanhada de um conhecimento que vai sempre se desenvolvendo dentro do desejo de entender sempre melhor o que ali se apresenta. Isso vai exigir uma dedicação sempre crescente ao estudo da Escritura? Sim, mas não basta isso. Além de conhecer a Palavra de Deus temos que aperfeiçoar maneiras de comunicá-la aos catequizandos para que eles descubram, junto conosco, a cada dia, a alegria de estar em comunicação com o nosso amoroso Pai, com Jesus, com o Espírito Santo que quer nos guiar.
Pode parecer algo que vai exigir muito de nós? Mas o que vamos ganhar é muito mais gratificante. A Bíblia é uma luz que vai estar em nossa vida e vai ser comunicada aos nossos catequizandos. Então, podemos lembrar uma quadrinha que nos ensina o valor de nos esforçarmos nessa direção:
É a ti que serves enfim
Quando serves, companheiro.
É aquele que acende a luz
Que se ilumina primeiro.
Therezinha Motta Lima da Cruz