“Os movimentos eclesiais são para servir, não para nós mesmos. É triste quando se ouve que eu pertenço a isso, àquilo, àquilo outro, como se fosse algo superior. Os movimentos eclesiais devem servir à Igreja, não são em si mesmos uma mensagem, uma centralidade eclesial. Eles devem servir”: disse Francisco ao receber na manhã desta quinta-feira, no Vaticano, os moderadores de mais de uma centena de associações, movimentos e novas comunidades, em cujo Encontro anual refletiram sobre a sinodalidade
O Santo Padre recebeu em audiência na manhã desta quinta-feira (13/06), na Sala do Sínodo, no Vaticano, os participantes do Encontro anual com os moderadores das associações de fiéis, dos movimentos eclesiais e das novas comunidades, promovido pela Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. No discurso que dirigiu aos presentes, Francisco refletiu sobre a sinodalidade, tema escolhido por eles para este dia de encontro.
Conversão espiritual
Tenho dito repetidamente que o caminho sinodal exige conversão espiritual, pois sem uma mudança interior não há resultados duradouros. De fato, meu desejo é que, depois deste Sínodo, a sinodalidade permaneça como um modo permanente de agir na Igreja, em todos os níveis, entrando no coração de todos, tanto dos pastores quanto dos fiéis, até que se torne um “estilo eclesial” compartilhado. Tudo isso, porém, requer uma mudança que deve ocorrer em cada um de nós, uma verdadeira “conversão”, ressaltou o Pontífice.
Após tecer ainda algumas considerações, na ótica desta conversão espiritual, Francisco indicou aos participantes três atitudes nas quais devem se concentrar para uma conversão espiritual necessária para a realização de um estilo sinodal: pensar de acordo com Deus, superar todo fechamento e cultivar a humildade.
Pensar de acordo com Deus
Eis a primeira grande mudança interior que nos é solicitada: deixar de “pensar apenas humano” e passar ao “pensamento de Deus”. Na Igreja, antes de tomar qualquer decisão, antes de iniciar qualquer programa, qualquer apostolado, qualquer missão, devemos sempre nos perguntar: o que Deus quer de mim, o que Deus quer de nós, neste momento, nesta situação? O que eu tenho em mente, o que nós, como grupo, temos em mente, é realmente o “pensamento de Deus”? Lembremo-nos de que o protagonista do caminho sinodal é o Espírito Santo, não nós. O protagonista do caminho sinodal é o Espírito Santo: Somente Ele nos ensina a ouvir a voz de Deus, individualmente e também como Igreja, observou o Papa.
Superar todo fechamento
Segundo: superar todo fechamento. Nesse ponto, Francisco chamou a atenção para a tentação do “círculo fechado”, acrescentando que este é um desafio para nós: não ir além do que o nosso “círculo” pensa, estar convencido de que o que fazemos é bom para todos, defender, talvez sem perceber, posições, prerrogativas ou prestígio “do grupo”. Ou deixar-se bloquear pelo medo de perder o próprio senso de pertencimento e identidade, devido ao fato de se abrir para outras pessoas e outras formas de pensar, sem reconhecer a diversidade como uma oportunidade e não como uma ameaça. São, portanto, “recintos” nos quais todos corremos o risco de nos tornar prisioneiros. “Cuidado: o próprio grupo, a própria espiritualidade, são realidades que nos ajudam a caminhar com o Povo de Deus, mas não são privilégios, porque há o perigo de acabarmos presos nesses recintos”, advertiu ainda o Santo Padre, lembrando que a sinodalidade nos pede que olhemos para além das cercas com grandeza de espírito, que vejamos a presença de Deus e sua ação também em pessoas que não conhecemos, em novas modalidades pastorais, em áreas de missão nas quais nunca havíamos nos engajado antes”. Francisco pediu abertura, coração aberto.
Cultivar a humildade
Terceiro e último, cultivar a humildade. Entendemos que a conversão espiritual deve começar pela humildade, que é a porta de entrada para todas as virtudes, ressaltou. Francisco disse ficar triste quando vê cristãos se vangloriando: “porque sou o padre daqui, ou porque sou um leigo dali, porque pertenço a esta instituição… Isso é uma coisa feia. A humildade é a porta, é o começo.
O Papa ressaltou que somente os humildes realizam grandes coisas na Igreja, porque aquele que é humilde tem uma base sólida, fundamentada no amor de Deus, que nunca falha, e, portanto, não busca outro reconhecimento, acrescentando que também esta etapa de conversão espiritual é fundamental para a construção de uma Igreja sinodal: somente a pessoa humilde de fato valoriza os outros e acolhe sua contribuição, seus conselhos, sua riqueza interior, fazendo emergir não o seu próprio “eu”, mas o “nós” da comunidade.
Francisco concluiu destacando o papel dos movimentos eclesiais. “Os movimentos eclesiais são para servir, não para nós mesmos. É triste quando se ouve que eu pertenço a isso, àquilo, àquilo ao outro, como se fosse algo superior. Os movimentos eclesiais devem servir à Igreja, não são em si mesmos uma mensagem, uma centralidade eclesial. Eles devem servir”.
Fonte: Vatican News