Os frades menores conventuais há 250 anos ouvindo confissões na Basílica Vaticana – entre eles, o brasileiro Frei Fernando Maria – foram recebidos por Francisco em audiência nesta quinta-feira (24/10). O Papa aprofundou os aspectos da “humildade, escuta e misericórdia” para ser um bom confessor e exortou: “por favor, não ser psiquiatra, quanto menos falar, melhor: ouça, console e perdoe. Você está ali para perdoar”.
O Papa Francisco recebeu os penitencieiros do Vaticano na manhã desta quinta-feira (24/10) exortando, antes de tudo, para que não procurem ser “psiquiatras”, mas confessores misericordiosos que “ouvem, consolam e perdoam”: “perdoar sempre, tudo e sem questionar muitas coisas”, insistiu ele. Em discurso, o Pontífice também agradeceu pelo “serviço, assiduidade, paciência e fidelidade” realizado na Basílica de São Pedro que todos os dias recebe um fluxo de 40 mil pessoas, “a maioria por turismo” atraídas pela beleza e história do lugar, mas também em busca de Deus e para confiar as suas intenções ao Senhor, que chegam de longe, enfrentam viagens, despesas e longas filas. A presença dos confessores nesse contexto “é importante”, acrescentou Francisco.
Os 250 anos de presença no Vaticano
Uma presença que é centenária. Ao saudar o reitor do Colégio dos Penitencieiros Menores Vaticanos Ordinários, Pe. Vincenzo Cosatti, o Papa também cumprimentou todos os confessores, entre eles, o brasileiro Frei Fernando Maria, por ocasião do aniversário de 250 anos da presença dos Frades Menores Conventuais a serviço do Sacramento da Reconciliação na Basílica Vaticana (1774-2024). Uma missão, junto a milhares de fiéis e peregrinos, que permite “encontrar o Senhor da misericórdia”; um ministério para ser exercido através da “humildade, escuta e misericórdia“, aprofundou o Pontífice em discurso.
Ao abordar o primeiro aspecto, o da humildade, Francisco recordou que “o tesouro da graça” pertence a Deus e, por isso, para ser um bom confessor, “sejamos ‘os primeiros penitentes em busca de perdão'”. Ao aprofundar a escuta, o Papa falou da importância de não apenas ouvir o que as pessoas falam, mas acolher as suas palavras “como dom de Deus para a própria conversão”:
“Ouvir, não questionar muito. Não ser psiquiatra, por favor: ouvir, ouvir sempre, com mansidão. E quando você vê que há um penitente que começa a ter um pouco de dificuldade, porque tem vergonha: “entendi”, não entendi nada, mas entendi; Deus entendeu e isso é importante. Um grande cardeal penitencieiro me ensinou isso: eu entendi, o Senhor entendeu. Mas, por favor, não ser psiquiatra, quanto menos falar, melhor: ouça, console e perdoe. Você está ali para perdoar!”
Perdoar sempre e tudo!
E, finalmente, o terceiro aspecto, o da misericórida, disse o Papa, ao acrescentar que o confessor, além de ser misericordioso, deve estar próximo e ter compaixão – sem ser um psiquiatra – insistiu o Pontífice, ao sair do texto escrito e contar sobre sua experiência com um confessor em Buenos Aires. Ele tem 96 anos e continua exercendo o ministério: “eu ia até ele. Ele perdoa tudo! [risos]. Certa vez, ele veio me dizer que tinha medo de perdoar demais. ‘E o que o senhor faz?’, eu disse a ele. ‘Eu vou diante do Senhor: Senhor, me perdoa? Desculpe, perdoei demais! Mas tenha cuidado, foi o Senhor quem me deu um mau exemplo!’.
“Perdoar sempre, tudo e sem questionar muitas coisas. E se eu não entender? Deus entende, você segue em frente! Que eles sintam misericórdia.”
Ao finalizar o discurso, o Papa contou aos penitencieiros do Vaticano que o seu confessor faleceu há alguns meses, por isso: “eu vou me confessar com vocês, em São Pedro. Façam bem!”, brincou o Pontífice. Após novamente agradecer pelo serviço “no coração da Igreja”, exortou todos a continuarem o ministério assim: “com humildade, eu sou pior que você; com a escuta, e não tanto com perguntas; e com misericórdia. E por favor, não esqueçam de rezar por mim e toda vez que for até vocês me perdoem, claro….”.
Fonte: Vatican News