A Eucaristia é vista como ponto culminante da nossa vivência eclesial. Há excelentes razões para isso. Estamos aí atendendo a um pedido muito especial de Jesus: “fazei isto para celebrar a minha memória”. Nessa perspectiva, nos sentiremos como parte do grupo de discípulos que foi convidado para estar com o Mestre na última ceia. Se percebemos isso teremos um sentimento muito especial, que vai bem além de estar “cumprindo o mandamento” de ir à missa para guardar o domingo como dia santo. Estaremos dentro de uma história que mudou o mundo, reconhecendo em nós uma identidade que nos liga a Jesus de modo bem especial.
Na comunhão não é só o comungante que recebe Jesus, mas é também Jesus que recebe o comungante. Ele nos acolhe e nos assimila quando o colocamos em nós através da hóstia consagrada. O fato de ter se transformado em comida é muito significativo. A comida que engolimos entra em nós, não é algo de fora, passa a fazer parte do nosso corpo, da nossa identidade. O alimento, indispensável à vida, nos fortifica e nos dá condições de agir com mais eficiência. Ao terminar a missa ouvimos o celebrante dizendo: Vamos em paz e que o Senhor nos acompanhe. Então, o encontro com Jesus não terminou. Saímos com Ele da igreja e Ele caminha conosco o tempo todo, como companheiro, apoio, animador, guia, luz que nos ilumina, alimento que nos dá ânimo e sabedoria para fazer as escolhas certas. A conversa com Jesus não acontece só nas ocasiões que chamamos de “momentos de oração”. Nossa unidade com Ele nos dá um modo novo de ver o que nos cerca, em todos os campos da vida. Desse jeito interpretaremos melhor o que ouvimos e vemos. Se Ele está conosco quando lemos um livro (mesmo que não seja literatura classsificada como “religiosa”), quando encontramos pessoas, quando vamos ao cinema, quando estamos fazendo o almoço para o pessoal de casa, nas atividades normais do nosso trabalho, tudo fica diferente. A vida ganha um sentido emocionante e mais profundo.
Alimentados pelo sacramento, tendo Jesus em nós e sabendo que Ele também nos fez parte da sua missão, a vida inteira se apresenta como proposta de participação na construção do Reino que Ele anunciou. Isso não acontece só quando estamos em trabalho pastoral ou naquilo que nos acostumamos a chamar de oração. Poderíamos pensar nisso quando lembramos a definição do posicionamento dos leigos, que são gente da Igreja no coração do mundo e gente do mundo no coração da Igreja. Tendo recebido Jesus e sendo recebidos por Ele, lá vamos nós ao mundo, em situações que às vezes só nós podemos viver, levando o espírito do evangelho em tudo que tivermos que fazer, com as pessoas que
Deus põe em nosso caminho para serem acolhidas, ouvidas, valorizadas.
Levaremos Jesus a outros, mas o próprio Jesus nos levará a ver o mundo, a natureza, as pessoas, nossa família e nosso trabalho cotidiano de outro jeito, transformando a vida inteira numa aventura cheia de contemplação, descobertas, engajamento, consolo e alegria.
Teillard de Chardin expressou com beleza e profundidade esse sentimento de presença total de Deus em todos os campos da vida. Ele escreveu: “Deus, naquilo que possui de mais vivo e mais encarnado, não está longe de nós, fora da esfera tangível; mas ele nos espera a cada instante na ação, na obra do momento. Ele está, de algum modo, na ponta da minha caneta, da minha picareta, do meu pincel, da minha agulha – do meu coração, do meu pensamento.” Helder Câmara, no livro “Um olhar sobre a cidade” diz que vivemos mergulhados em Deus como peixes num aquário. Relembra então que esse “mergulho” se torna mais evidente quando participamos da Eucaristia, recebendo Jesus e sendo recebidos por Ele. Aí ele diz: “Quando terminam os Ofícios Sagrados e vejo as pessoas deixando a igreja, para voltar para casa, fico pensando:saem de dentro da igreja, mas não saem de dentro de Deus.”
Como catequistas, sentindo em nós o tempo todo a presença desse Jesus que veio a nós na Eucaristia, somos convidados a transmitir aos catequizandos a alegria de estar sempre acompanhados por esse Mestre, amigo e parceiro, que quer enriquecer a nossa vida. Ele nos vai fazer perceber o mundo e as pessoas como espaços de comunicação divina. Vamos olhar cada fato, cada paisagem, cada ser humano e perguntar: O que Jesus está me comunicando agora? E aí cada um estará sempre em espírito de oração, mergulhado no projeto do Reino, vivendo de um modo muito mais emocionante e construtivo.
Como estamos comunicando essa força da presença eucarística de Jesus? Falamos só de regulamentos ligados ao sacramento ou estamos contagiando outros com o entusiasmo que nos vem dessa presença permanente de Jesus em nossa vida?