Neste sábado, 20, o Papa Francisco aceitou a renúncia do Cardeal Robert Sarah como prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, cargo que ocupou desde novembro de 2014. O Cardeal atingiu o limite de idade de 75 anos, estabelecido pelo Código de Direito Canônico, em junho do ano passado e entregou sua renúncia, a qual acaba de ser acolhida pelo Santo Padre.
O cardeal Robert Sarah nasceu em 15 de junho de 1945 na cidade de Ourous, na Guiné (África). Em 1957, aos 12 anos, ingressou no Seminário Menor de Santo Agostinho de Bingerville, na Costa do Marfim, onde estudou durante três anos.
Em seu livro “Deus ou nada”, o Cardeal Sarah relata como nasceu sua vocação : “Foi no contexto da Eucaristia cotidiana que o Padre (Marcel) Bracquemond, descobrindo meu desejo ardente de conhecer a Deus e talvez impressionado por meu amor pela oração e minha fidelidade à missa diária, me perguntou se eu queria entrar no seminário ”.
“Com a surpresa e a espontaneidade que caracterizam as crianças, respondi que adoraria, embora sem saber exatamente a que me comprometia, pois nunca havia saído da cidade nem conhecia a vida de um seminário”, diz.
El Cardeal conta que seus pais não acreditaram e foram conversar com o Pe. Bracquemond, que confirmou-lhes a notícia: “Minha mãe, esbugalhando os olhos disse que tinha perdido o juízo, que não sabia a que estava me comprometendo ou que havia entendido mal o sacerdote. Para ela e para o povo da aldeia, todos os padres eram necessariamente brancos. Na verdade, parecia-lhe impossível que um negro pudesse ser padre!
Como as relações entre a recém-independente Guiné e a Costa do Marfim se tornaram tensas em 1960, Robert Sarah voltou a estudar no Seminário Dixinn na Guiné, até que o governo expropriou as propriedades da Igreja em agosto de 1961.
Depois de estudar apenas por um tempo em casa, a Igreja encontrou um lugar para ele e outros seminaristas em uma escola pública em Kindia em março de 1962. Por meio de negociações, um seminário foi aberto e Sarah obteve seu bacharelado em 1964.
Em setembro desse ano foi enviado ao Seminário Maior de Nancy, na França. Porém teve que interromper seus estudos novamente. Desta vez devido às tensões entre a Guiné e França. Assim, continuou seus estudos teológicos em Sébikotane, Senegal, onde estudou entre outubro de 1967 e junho de 1969.
Robert Sarah foi ordenado sacerdote em 20 de julho de 1969, aos 24 anos. Foi nomeado arcebispo de Conakry em 13 de agosto de 1979, quando tinha apenas 34 anos. Recebeu a consagração episcopal no dia 8 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição, do mesmo ano.
Em 1º de outubro de 2001, o Papa São João Paulo II o nomeou Secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. Em 7 de outubro de 2010 foi nomeado presidente do Pontifício Conselho “Cor Unum”. Um mês depois, o Papa Bento XVI o criou cardeal.
Em 23 de novembro de 2014, foi nomeado Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
O cardeal Sarah é um dos cardeais mais importantes da África. Ele é um forte defensor da liturgia, do direito à vida, da família e da liberdade religiosa.
O purpurado sempre foi crítico à ideologia de gênero, uma abordagem que considera o sexo uma construção sociocultural ao invés de algo natural. Em 2016, ele disse que essa corrente é “demoníaca” e um “impulso mortal” contra as famílias.
Ele participou do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens em 2018. Lá, ele destacou que “diluir” a doutrina moral católica no campo da sexualidade não atrairá as novas gerações.
Ele também participou do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia em outubro de 2019. Em uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, o cardeal Sarah lamentou que alguns tenham usado a “assembleia para fazer avançar seus planos”.
“Estou pensando em particular na ordenação de homens casados, na criação de ministérios femininos e na jurisdição dos leigos. Esses pontos tocam a estrutura da Igreja Universal”, disse o Cardeal na ocasião.
“Aproveitar a oportunidade para apresentar planos ideológicos seria uma manipulação indigna, um engano desonesto e um insulto a Deus que guia a sua Igreja e lhe confia o seu plano de salvação. Além disso, fiquei chocado e indignado que a angústia espiritual dos pobres na Amazônia foi usada como desculpa para apoiar projetos típicos do cristianismo burguês e mundano. É abominável”, disse o Cardeal.
Em janeiro de 2020, o cardeal Sarah e Bento XVI publicaram um livro sobre o sacerdócio e o celibato sacerdotal intitulado “Des profondeurs de nos cœurs” (Do fundo de nossos corações).
O cardeal foi alvo de alguns ataques, acusando-o de mentir sobre a participação do Papa emérito, mas respondeu mostrando a correspondência que mantinha com Bento XVI sobre o texto escrito a quatro mãos.
Em abril de 2020 e diante das restrições da participação de fiéis na liturgia e fechamento das igrejas devido à pandemia do coronavírus, o cardeal Sarah lembrou que “os sacerdotes devem fazer todo o possível para ficar perto dos fiéis” e destacou que “ninguém tem o direito de privar um doente ou moribundo do assistência espiritual de um padre. É um direito absoluto e inalienável”.
Fonte: ACI Digital