Mesmo que a oração seja essencial, ela não nos exime de agir: devemos arregaçar as mangas também a serviço do Reino
Deus não tem nada a ver com os medrosos, aqueles que sonham a vida em vez de levá-la nas mãos ou que nunca param de se arrepender do passado, profissionais do “sofá” e professores de chinelos. Deus poderia fazer qualquer coisa sem nós, mas ele escolhe precisar de nós. Ele quer nos associar à sua obra de Criador: é aqui que reside a grandeza do nosso trabalho humano, que não é exclusivamente nem antes de tudo um simples meio de ganhar dinheiro (também pode ser voluntário e isso não prejudica o seu valor).
A ação não se opõe à contemplação, ela decorre dela
Pessoas “criadas à imagem de Deus” são “chamadas a prolongar, uma com e para a outra, a obra da Criação, dominando a Terra. […] O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos”( Catecismo da Igreja Católica, § 2427). Os santos nos deram o exemplo: nenhum deles ficou de braços cruzados. Se a oração é a fonte de sua ação, ela não a substitui. Eles se colocam energicamente a serviço do Reino.
Olhemos para a Virgem Maria depois da Anunciação: sem demora ela pega o caminho para ir ajudar sua prima Isabel. Os santos não são “planadores”: o coração deles está no céu, e ainda mais com os pés no chão. Os maiores contemplativos costumam ter um senso excepcional do concreto e são ainda mais eficazes quando buscam apenas a vontade de Deus. Eles vão direto ao ponto.
É um erro opor-se a Marta e Maria (Lc 10,38-42): escolher “a melhor parte”, que nos é oferecida a todos, não significa deixar a “Marta” trabalhar, mas apenas trabalhar. A ação não se opõe à contemplação, ela decorre dela.
Construa ou sofra: a escolha é de cada um!
Diante dos desafios do mundo de hoje, podemos passar o tempo lamentando, chorando pelo que já não existe, imaginando o que poderia ser, enquanto permanecemos inertes. Refazer o mundo à volta de uma mesa, discutindo sem parar o que deve fazer o nosso bispo ou o diretor do colégio dos nossos filhos, o pároco ou o prefeito da nossa cidade, separar os bons e os maus com muito rigor, tudo isso é estéril, quando não prejudicial. O Reino não precisa de fiscais de obra acabados, mas de homens e mulheres que se arriscam a agir.
Porque agir é correr o risco: de errar, de se expor ao julgamento dos outros, de ser criticado e censurado. Para ser o sal da terra, no entanto, é preciso aceitar misturar-se com a terra. Manter as mãos limpas é fácil quando você mantém as mãos nos bolsos; é muito diferente quando decidimos enfrentar a realidade, comprometer-nos visivelmente ao serviço dos irmãos, tomar iniciativas. Ousamos pensar fora da caixa para implementar novas soluções, abrir portas, enfrentar o infortúnio, a mediocridade, a feiúra, a miséria e todas as formas de violência, ao mesmo tempo que nos recusamos a ver isso como uma fatalidade inevitável?
Nossos filhos precisam nos ver arriscando nossas vidas em vez de sofrer. Precisam de nós que os encorajemos a envolver-se “para permear as realidades sociais, políticas e econômicas, segundo as exigências do cristianismo e da vida cristã” (Catecismo da Igreja Católica, § 899).
A ação não é agitação
Nossas obras não avançam a chegada do Reino, é Deus quem o faz avançar, conosco. Somos como ferramentas em suas mãos, tanto mais eficazes quanto aceitamos ser dóceis. Deus não nos pede que façamos o máximo possível, ele não espera que acumulemos façanhas: Ele apenas nos pede para fazermos o pouco que ele nos confia, para cumprir a tarefa que é nossa no tempo que dle nos dá. Isso supõe permanecer “ligados” a ele pela oração: se nos deixarmos levar pelo calor da ação sem parar para orar, talvez possamos alcançar grandes conquistas, mas qual será a nossa real fecundidade? A mesma coisa acontece se não soubermos respeitar o domingo .
Fonte: Aleteia