A Cruz é o sinal mais apropriado para sintetizar toda a vida cristã. Foi dependurado numa cruz que Jesus morreu por todos nós, derrotando a própria morte, pois a história não acabou ali. Muito pelo contrário, Ele ressuscitou três dias depois de sua entrega total. Como o próprio Jesus, muitos de seus seguidores também foram crucificados como forma de zombar deste sinal. Não sabiam eles que aquela era a maior honra para estes mártires.
Isto demonstra que os cristãos, desde os primeiros séculos, passaram a ser reconhecidos como seguidores da cruz. Mas há de se dizer que a representação artística de Jesus crucificado só se tornou algo comum alguns séculos depois do fato ocorrido. Ela só se popularizou no século 4º, já sendo o cristianismo a religião oficial do Império Romano.
Esta popularização da Cruz teve uma grande propagadora, que foi a mãe do Imperador Constantino (c. 272-337), Santa Helena (c. 250-330) que, entusiasmada, buscou os objetos de referência da fé em Jesus na Judeia. Ela mesma para lá se dirigiu em busca dos lugares exatos e de tudo o que dizia respeito ao Salvador. Em Jerusalém, seguindo pistas de pessoas do lugar e de testemunhos antigos, encontrou o Santo Sepulcro e, junto a ele, a Cruz onde Jesus foi crucificado. Desta cruz foram feitas muitas relíquias, depois espalhadas pelo Império.
Aos poucos, a representação de Jesus crucificado passou a tomar conta dos lugares santos e de milhares de igrejas que, a partir de então, passaram a ser construídas. Mas demorou um pouco até ela chegar ao altar. A representação de um homem crucificado não era tão fácil de aceitar em muitos lugares. Era repugnante olhar para aquela cena. Embora real e necessária, a imagem do crucificado foi, aos poucos e timidamente, ganhando espaço. Já a cruz (sem o Cristo) foi bem mais aceitável, e já nos séculos II e III, ela estava presente nas catacumbas romanas, mesmo que disfarçadas como âncoras. Séculos depois, ela passou a dominar o alto dos campanários e nas cúpulas, a indicar o lugar sagrado e como objeto de culto em casa ou de forma particular portátil, podendo ser carregada de maneira discreta no bolso, por exemplo.
Ainda hoje, em diversos lugares a cruz vem sendo profanada, pisada, queimada, destruída por quem é contra o Cristo. Para estes, é um sinal horrível que os faz ter ódio. Quem a carregar é atacado e até mesmo morto, caso não venha a aceitar renegar sua fé na Cruz. Aliás, esta atitude é recorrente no cristianismo. Nunca deixou de existir.
Reconhecendo a grandeza do sinal da Cruz, a Igreja instituiu uma festa para ela. Isso se deu na dedicação da Basílica do Santo Sepulcro, em 335. Desde então, a festa da Exaltação da Santa Cruz é celebrada em 14 de setembro.
Os sacerdotes também se utilizam do sinal para abençoar pessoas, lugares e objetos, a fim de se obter a proteção divina e afastar o mal. Da mesma maneira, os fiéis, sempre que iniciam uma oração, fazem sobre si o sinal da cruz, assim como também quando se sentem ameaçados por algo, pedindo que o Senhor da Vitória esteja a lhes proteger.
É muito popular a Oração de São Bento, contida em sua famosa Medalha, pois é uma invocação de exorcismo, a confiança na Cruz, a luz contra as trevas, a cruz contra o dragão:A Cruz Sagrada seja a minha luz, não sejas o dragão o meu guia.Retira-te, satanás! Nunca me aconselhes coisas vãs.É mau o que tu me ofereces, bebe tu mesmo do teu veneno.Amém!
Há diversos modelos de cruz, com significados específicos: Cruz de São Pedro, Cruz de Santo André, Cruz de Santiago, Cruz de São Clemente, Cruz de Jerusalém, Cruz Latina, Cruz Grega, Cruz de Malta, Cruz Celta… é uma variedade imensa, muitas vezes ligada à cultura de determinado lugar. Apesar disso, todas elas apontam para a Vitória de Cristo e nós somos vitoriosos com Ele.
Na Semana Santa, de modo particular na Sexta-feira da Paixão, na solene celebração das 15h, o sacerdote adentra o templo com um grande crucifixo velado. Numa procissão na qual ele faz três paradas a desvelar o crucifixo e a bradar em alto e bom som para que todos ouçam que aquele é o sinal máximo de nossa fé. Por fim, ao chegar ao altar, já com o crucificado totalmente desvelado, prostra-se diante da imagem e a beija com sincera devoção. Os fiéis o acompanham com aquele gesto, formando uma fila acompanhada por cantos lamentosos.
Este ano, a cena ritual desta celebração será diferente devido à realidade da pandemia que impede a participação dos fiéis, com o intuito de evitar aglomeração e a propagação do coronavírus. É obvio que tudo isto é muito triste. É como se a nossa cruz pesasse ainda mais. Por isso mesmo, a proposta é caminharmos juntos com Jesus. Ajudá-lo a carregar a cruz de todos nós. Contemplá-lo de maneira que nós possamos reconhecer nossa imagem n’Ele, pois a cruz que ele carrega é justamente a nossa. Ele mesmo nos diz que irá nos ajudar se nos juntarmos a Ele.
Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e vos dareis descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mt 11, 28-30)
Aceitar a CRISTO é aceitar a sua CRUZ, o sinal mais belo dos cristãos.
Fonte: A12