“Desejo reiterá-lo claramente e com vergonha: peço humildemente perdão pelo mal cometido por tantos cristãos contra as populações indígenas”, disse o papa Francisco em seu segundo dia de viagem apostólica ao Canadá, hoje (25).
Ao encontro com as Primeiras Nações, Métis e Inuit, em Maskwacis, Canadá, o papa chegou de cadeira de rodas, acompanhado pelo segurança, e foi ao cemitério indígena “Ermineskin”, onde rezou em silêncio.
Ao sair, foi saudado pelos chefes das tribos e conduzido por um longo caminho até o palco. O papa se levantou e escutou uma música indígena a base de tambores que evoca a terra e a vida.
Em seguida, as comunidades passaram diante do papa cantando e dançando. Alguns deles carregavam uma faixa vermelha com os nomes de crianças que morreram em escolas residenciais, que Francisco abençoou e beijou em uma capela antes da cerimônia.
Posteriormente, o líder indígena Wilton Littlechild fez um discurso de boas-vindas. Ele contou que foi aluno da Escola Residencial Ermineskin e destacou a acolhida e escuta que o papa lhes deu durante a visita ao Vaticano. Desejou também seu desejo de que uma verdadeira cura seja alcançada.
As escolas residenciais faziam parte de um projeto do governo do Canadá, estabelecido no século XIX, de criar crianças indígenas longe de suas famílias para facilitar sua assimilação. Algumas dessas escolas foram administradas por instituições católicas.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e autoridades civis e religiosas também estiveram presentes no encontro com os povos indígenas.
Diante de todos eles, o papa Francisco lembrou os dois pares de mocassins que lhes foram entregues há cerca de quatro meses, quando os representantes indígenas o visitaram no Vaticano. Ele se referiu às peças como sinal das tribulações sofridas pelas crianças indígenas, particularmente por aquelas que, infelizmente, não mais regressaram a casa das escolas residenciais”.
“Mas estes mocassins falam-nos também de um caminho, de um percurso que desejamos fazer juntos. Caminhar juntos, rezar juntos, trabalhar juntos, para que os sofrimentos do passado deem lugar a um futuro de justiça, cura e reconciliação”, disse o papa.
Francisco enalteceu a história e a tradição das comunidades nativas que honravam a terra, a família, os idosos e as crianças. Algo que, segundo o papa, foi desperdiçado durante a chegada de colonos europeus e a implementação de políticas de assimilação que ” acabaram por marginalizar sistematicamente os povos indígenas”.
O papa também lembrou os abusos físicos, verbais, psicológicos e espirituais aos quais as crianças foram submetidas, tirando-as de suas casas e afetando “indelevelmente a relação entre os pais e os filhos, os avós e os netos”.
Em seguida, o papa afirmou que o primeiro passo de sua peregrinação foi renovar seu pedido de perdão pelos erros da Igreja com os povos indígenas.
“Peço perdão pelas formas em que muitos cristãos, infelizmente, apoiaram a mentalidade colonizadora das potências que oprimiram os povos indígenas. Sinto pesar”.
“Peço perdão, em particular pelas formas em que muitos membros da Igreja e das comunidades religiosas cooperaram, inclusive através da indiferença, naqueles projetos de destruição cultural e assimilação forçada dos governos de então, que culminaram no sistema das escolas residenciais”, acrescentou.
No entanto, reconheceu que para muitos as desculpas não são um ponto de chegada, mas “constituem apenas o primeiro passo, o ponto de partida” de um processo que exige “efetuar uma busca séria da verdade sobre o passado e ajudar os sobreviventes das escolas residenciais a empreender percursos de cura dos traumas sofridos”.
O papa Francisco também disse desejar de que os cristãos e a sociedade encontrem formas de acolher, conhecer e valorizar a identidade e a experiência dos povos indígenas. Expressou ainda seu compromisso de continuar incentivando os católicos para esse fim.
“Sei que tudo isto requer tempo e paciência: trata-se de processos que devem penetrar nos corações, e a minha presença aqui e o empenho dos bispos canadenses dão testemunho da vontade de avançar por este caminho”.
Por fim, o papa destacou que está no Canadá pelos indígenas: “chorar convosco, contemplar em silêncio a terra, rezar junto das sepulturas”. Além disso, pediu para rezar “ao Deus da vida”, que fez do túmulo “o lugar do renascimento, da ressurreição, donde partiu uma história de vida nova e reconciliação universal”.
“Não bastam os nossos esforços para curar e reconciliar, é precisa a sua graça: precisamos da sabedoria serena e forte do Espírito, da ternura do Consolador”, disse.
Ao final, os indígenas colocaram no papa um cocar de penas, símbolo de líder e chefe, em meio a aplausos. Vários indígenas foram cumprimenta-lo. O papa rezou o Pai-nosso em inglês e lhes deu a bênção.
Fonte: ACI Digital