Com a graça de Deus, chegamos ao quarto e último artigo desta série sobre Santo Agostinho. Vimos, no artigo anterior, que o Bispo de Hipona lutou bravamente contra as diversas heresias que estavam surgindo no seu tempo. Embora ele tenha vivido há mais de quinze séculos, seus escritos encontram uma impressionante ressonância ainda nos nossos tempos. É justamente sobre isso que trataremos neste artigo.
De fato, Santo Agostinho tem muito a ensinar ainda hoje. Como já fora dito nos artigos anteriores, o santo mais ilustre de Hipona não viveu em tempos de tranquilidade para a Igreja. Ao contrário, correntes de pensamentos estranhos que poderiam levar os fiéis a graves erros ameaçavam a doutrina da Igreja. Muitos bispos, inclusive, foram seduzidos por “melodias doces”, mas heréticas, é o caso, por exemplo, das centenas de prelados que se inclinaram à corrente donatista.
Assim como Agostinho, não temos por que temer
Quem, deliberadamente, ousaria afirmar que a Igreja Católica deixou de sofrer agressivos ataques, como os de outrora? Somente os alienados não reconheceriam as variadas investidas contra a verdadeira e única Igreja de Cristo. Agostinho, neste ponto, torna-se um estupendo exemplo e uma valiosa inspiração para cada um de nós. Ele não se perdeu porque seu barco estava atracado nas perenes doutrina e tradição da Igreja. Se estamos ancorados na Doutrina e na Tradição da Igreja, não precisamos temer.
Outro ponto de grande pertinência na vida de Agostinho foi a sua busca pela verdade. Sua magnífica conversão, aliás, foi condicionada pelo desejo de encontrar a verdade. Nesse sentido, ele tem muito que ensinar aos homens de hoje, com tanta frequência perdidos e desorientados frente ao grande problema das falsidades e factoides do momento. Onde se encontra a verdade em meio a tantas mentiras? Onde se encontra a beleza no meio de tanta feiura? Onde se encontra a unidade diante de um mundo fragmentado? Qual o paradeiro da bondade em meio a tanta maldade?
Agostinho procurou a verdade na ruidosa celeuma do mundo exterior e não a encontrou. Certamente, os que buscam a verdade no mundo como o de hoje, ainda mais inclinado à tagarelice e à toda espécie de “fakes”, assim como o Agostinho fizera em outros tempos, também não encontrarão. O Santo de Hipona não apenas passou por isso, mas deixou um precioso ensinamento para nós. Agostinho se deu conta de que vagava pelos barulhos do mundo buscando Deus, não obstante, Deus estava mais próximo de Agostinho do que ele pudesse imaginar.
Impulso de amor
Em resumo, o mundo não foi capaz de proporcionar Deus para ele. Em certa oportunidade, Agostinho exclamou: “Estavas diante de mim, mas eu me havia afastado de mim mesmo e não sabia encontrar-me. Com maior razão não sabia encontrar a Ti”. Aquele que não se encontra consigo mesmo não é capaz de estabelecer uma relação de conhecimento do outro. Para Agostinho, no homem interior está presente aquela misteriosa capacidade de amar que o leva para fora. Este impulso de amor faz do homem um ser constitucionalmente social, até o ponto de que “ninguém”, como escreve Agostinho, é mais social por natureza que o próprio homem.
Fica claro, portanto, que não se trata de uma atitude egoísta ou de fechamento. Ao contrário, encontrar Deus dentro de si é, a rigor, transcender a si mesmo para encontrar, em primeiro lugar, o “Outro”. A partir daí, a relação com o outro torna-se, verdadeiramente, livre de ruídos e de obstáculos.
Que Deus Agostinho encontrou em sua alma? Certamente não foi um Deus estigmatizado, caricaturado, muitas vezes reluzente e cheio de apetrechos como se vê hoje em dia. Trata-se, simplesmente, de um Deus que é Deus, o Deus verdadeiro. E quem se encontra com Deus verdadeiro não sente mais a necessidade de buscar outros deuses pelo mundo disfarçados de muitas outras coisas.
Para concluir, convém lembrar que Agostinho, ao falecer, nada deixou de riqueza material, narra Possídio, um de seus alunos mais próximos. Contudo, ele deixou para toda Igreja uma herança incomensurável mostrando que é possível vencer o pecado, abandonar a vida velha e colocar-se no seguimento a Cristo.
Deus abençoe você e até a próxima!
Fonte: Canção Nova