“A Quaresma é certamente o tempo favorável para regressar ao essencial, para despojar-nos daquilo que nos sobrecarrega, para nos reconciliarmos com Deus, para reacender o fogo do Espírito Santo que habita escondido entre as cinzas da nossa frágil humanidade”, disse o papa Francisco na homilia da missa de Quarta-feira de Cinzas celebrada hoje (22).
A celebração começou com a procissão penitencial que partiu da igreja de Santo Anselmo, com a participação de cardeais, bispos, monges beneditinos, padre dominicanos e fiéis. A missa foi celebrada na basílica de Santa Sabina.
O papa celebrou o rito da imposição das cinzas e as recebeu do cardeal Mauro Piacenza.
O papa Francisco disse na homilia que “o rito das cinzas nos introduz neste caminho de retorno, nos convida a voltar a quem realmente somos e a retornar a Deus e aos irmãos”.
“A cinza recorda-nos quem somos e de onde viemos, recorda-nos a verdade fundamental da vida: só o Senhor é Deus e nós somos obra das suas mãos”, disse o papa.
“Nós temos a vida enquanto Ele é vida. Ele é o Criador, enquanto nós somos o frágil barro que se molda em suas mãos. Viemos da terra e precisamos do Céu, dele. Com Deus ressuscitaremos das nossas cinzas, mas sem Ele somos pó”, disse o papa.
A Quaresma, continuou o papa Francisco, “é o tempo favorável para nos convertermos, para mudarmos o nosso olhar, antes de tudo, sobre nós mesmos, para nos vermos por dentro”.
“Quantas distrações e superficialidades nos afastam do que é importante. Quantas vezes focamos nos nossos desejos ou no que nos falta, afastando-nos do centro do coração, esquecendo-nos de abraçar o sentido do nosso ser no mundo”, disse.
A Quaresma, disse o papa, “é um tempo de verdade para fazer cair as máscaras que pomos todos os dias, a fim de aparecer perfeitos aos olhos do mundo; para lutar, como nos disse Jesus no Evangelho, contra as falsidades e a hipocrisia. Não as dos outros, mas as nossas”.
“As cinzas que recebemos hoje sobre nossas cabeças nos dizem que toda presunção de autossuficiência é falsa e que idolatrar a si mesmo é destrutivo e fecha-nos na jaula da solidão”, disse.
O papa Francisco disse que, para percorrer o caminho do retorno “ao que realmente somos e ao retorno a Deus e aos outros, somos convidados a percorrer três grandes caminhos: a esmola, a oração e o jejum”.
Estes, disse Francisco, “não são ritos exteriores, mas gestos que devem expressar uma renovação do coração”.
“A esmola não é um gesto, cumprido rapidamente, para deixar a consciência limpa, mas tocar, com as próprias mãos e as próprias lágrimas, os sofrimentos dos pobres; a oração não é mero ritual, mas diálogo de verdade e amor com o Pai; o jejum não é um simples sacrifício, mas uma atitude forte para lembrar ao nosso coração aquilo que conta e, ao contrário, o que passa”, disse o papa.
“Muitas vezes, porém, os nossos gestos e ritos não tocam a vida, não são autênticos, talvez os façamos só para que os outros nos admirem, para receber aplausos, para atribuir crédito a nós próprios”, disse Francisco.
Assim, continuou, o tempo da Quaresma “nos oferece quarenta dias favoráveis para nos encontrarmos novamente, para acabar com a ditadura das agendas sempre cheias de coisas para fazer; das pretensões de um ego cada vez mais superficial e pesado; e escolher o que realmente importa. Não desperdicemos a graça deste tempo sagrado”.
“Fixemos o olhar em Jesus crucificado e caminhemos respondendo generosamente aos fortes apelos da Quaresma. No final do percurso, encontraremos com maior alegria o Senhor da vida, o único que nos fará ressurgir das nossas cinzas”, concluiu.
Fonte: ACI Digital