Todo trabalho sério necessita de um tempo mínimo para gerar frutos. É o tempo da preparação, do amadurecimento, da afinidade e de estreitar laços. Em se tratando do grupo de catequistas, no qual a sintonia do grupo se reflete diretamente na catequese, esse tempo de crescer juntos é fundamental. A amizade entre os catequistas, o companheirismo, a união, o respeito, cada um reconhecendo seus limites e seus valores e conhecendo os dos outros, revelam o amor, núcleo da catequese e da vivência em comunidade.
Porém, um dos aspectos mais apontado pelos catequistas e coordenadores ao indicar as dificuldades para a catequese é, justamente, a mudança constante no grupo de catequistas. Renovação é bom, e precisamos de mais catequistas. Porém, toda mudança deve ocorrer dentro de um processo, e não bruscamente como acontece atualmente, para a mera substituição de quem falta ou deixa a catequese.
Sendo a catequese um processo, e o catequista aquele que caminha junto, que cresce e aprende junto, a saída repentina dele, muitas vezes sem qualquer aviso, ou quando muito, vindo com uma semana ou um mês de antecedência, impulsiona o coordenador, “desesperado”, a atirar para qualquer lado, na intenção de encontrar alguém que substitua o catequista. Então, surgem alguns “novos catequistas”, e pronto, o grupo está totalmente diferente. Agora imaginem se isso acontecer a cada seis meses? Os catequizandos sem qualquer referência, o “novo catequista” sem a mínima formação e conhecimento do grupo, a catequese sem um planejamento coerente, enfim, todos perdidos, bagunça geral.
Certo nisso tudo é que ninguém, que ama a catequese e a leva a sério, se sente confortável com tal situação, e com frequência pergunta: “Por que isso acontece?” É preciso entender que em princípio, as mudanças ocorrem devido à falta de catequistas, agravada pelo alto número de desistência daqueles que já têm certo tempo de caminhada. Portanto, esse será nosso ponto de partida.
Nesse sentido, elencamos alguns aspectos que podem ser as principais causas (mas, com certeza, não serão as únicas). A primeira delas é óbvia, a falta de formação ou sua precariedade. Vale lembrar o texto 59 – Estudos da CNBB, Formação de Catequistas, ao apontar a necessidade da formação expondo que “Ninguém nasce catequista. Aqueles que são chamados a este serviço podem tornar-se bons catequistas através da prática, da reflexão e da preparação adequada, na consciência de serem enviados e comprometidos com a educação da fé” (n.64).
Uma pessoa sem a mínima noção do que é a catequese, sua finalidade e seus objetivos, nunca deveria ser responsável por catequizandos, já que não tem preparo suficiente para tanto. Entregar para essa pessoa um grupo, por exemplo, é correr o risco, de em breve, ficar sem catequista, pois ela pode descobrir que aquele não é seu lugar, ou desistir diante da menor dificuldade. A formação faz pensar a vocação, trabalha o aspecto humano, mostra o que a missão de ser catequista exigirá, chama a atenção para aspectos do conhecimento, de nossa fé cristã, ou seja, quem não passa por essa experiência, não terá condições de superar os desafios que com certeza virão. Mas a referência aqui é da boa formação, e não os cursinhos com matérias, apostilas e especialistas em áreas teológicas, que nada entendem de catequese e se referem aos catequizandos como “alunos”, transformam a formação em aula quando a catequese é uma experiência. Tudo bem que, às vezes não tem como fugir do esquema acadêmico, porém, devem ser criados outros momentos que amenizem essa estrutura: as orações que não precisam ser sempre um Pai Nosso e uma Ave Maria; uma dinâmica que introduza o tema; um vídeo interessante; uma música que quebre a exposição maçante, etc. Ou seja, não se pode denominar “formação para catequistas” qualquer cursinho, como dito anteriormente; do contrário, enquanto pensamos estar preparando bem nossos catequistas, estamos na verdade criando problemas para o futuro: pessoas que não se comprometeram realmente e que simplesmente “largam” os catequizandos, sem se preocupar com os resultados disso.
Em decorrência da falta de formação adequada, temos outros pontos que merecem igual atenção. Um deles é a falta de estrutura, apesar do que vem expresso no número 236 do Diretório Nacional de Catequese, em referência, inclusive, ao Código de Direito Canônico:
“Catequistas são sabidamente generosos, oferecem seus serviços e seu tempo em espírito de gratuidade. Mas muitos são pobres e cooperam penosamente no sustento da família. A comunidade que aceita seu trabalho e precisa tanto deles deve ter sensibilidade para pôr à disposição da catequese livros, material pedagógico, cobertura financeira para cursos, encontros, reuniões dos quais os catequistas devam participar (cf. CDC 779)”.
No entanto, é comum ouvir dos catequistas, reclamações a respeito de falta de material, de espaço, de infraestrutura, ou seja, de atenção em relação à catequese. É irônico dizer que a catequese é essencial na Igreja e, na realidade, perceber que em algumas comunidades não há sequer um lápis para usarem. Chegamos ao absurdo de catequistas terem que promover eventos para custear as atividades da catequese, ou até custear os gastos com recursos próprios. É uma situação desafiadora e o catequista experiente saberá agir, pois entende bem que o dízimo não se destina somente às despesas corriqueiras com o templo, os padres e os funcionários, mas para manter toda a estrutura da Igreja, inclusive ou principalmente, a catequese. Mas os catequistas iniciantes, ainda em processo de integração no grupo, ou aqueles com mais tempo, porém com uma formação precária, não sabem disso, e ainda acreditam ser deles a responsabilidade financeira com a catequese. Total falta de estrutura aos poucos vai desgastando o catequista. Este, muitas vezes sem recurso, começa a acreditar que não pode continuar; e o pior, ao “sair” nem usa essa razão, talvez por se sentir envergonhado.
A falta de apoio e acompanhamento também são causas para a frequente mudança no grupo de catequistas. Alguns coordenadores e padres, responsáveis diretos pela catequese na comunidade, ainda pensam que basta “entregar” os catequizandos a alguém, sem importar seu preparo, vocação, condições, nada. Desde que “seja oferecida a catequese na comunidade” está tudo certo. Acreditam estar resolvendo o problema da falta de catequistas, e revelam maior preocupação com o número do que com a qualidade desses catequistas. Não há orientação, clareza, comunicação; é cada um por si. O coordenador nem sabe como o catequista trabalha ou o que faz com os catequizandos, e o padre nem toma conhecimento do que acontece na catequese. Sem apoio, e com certeza, enfrentando duras críticas, a pessoa, quando não se torna o próprio “problema”, magoada e desvalorizada acaba desistindo.
Pode acontecer ainda, que o catequista cheio de boa vontade e até ingênuo, assuma várias responsabilidades no grupo, e esse excesso causa extremo cansaço e grandes conflitos. Fazendo com que o catequista em pouco tempo, acredite precisar de um “descanso”.
Contudo, como mencionado, essas razões não esgotam todas que podem causar a grande rotatividade no grupo de catequistas, mas resumem as principais. O fato é que a resposta a essa pergunta estará sempre entre nós: ou é a comunidade (falta de estrutura), ou é a coordenação e o padre (falta de apoio, acompanhamento e falta de formação). O importante é cada um identificar onde estão suas faltas, já que essa situação traz grandes implicações para o processo catequético como um todo. Consenso é que, planejamento sério não pode ser refeito em tão pouco tempo, dando a noção de estarmos sempre começando do zero, o que demonstra enorme falta de organização e gera uma insegurança tremenda.
Karla Bianca F. Ribeiro
Catequista em Belo Horizonte-MG