Um bom Projeto diocesano de Iniciação à Vida Cristã precisa levar em conta A FAMÍLIA como o foco da ação evangelizadora da Igreja. Desta forma, a família é a primeira destinatária e interlocutora no processo de iniciação cristã de inspiração catecumenal.
No seio da comunidade, que é mãe da fé, existe a família, célula da sociedade. No contexto hodierno, a família ganhou estrutura e configuração diferente daquela de gerações passadas. O ser humano tem suas primeiras vivências em família, independentemente de sua vontade ou da constituição dela. É a família que confere o nome, os primeiros cuidados, e ainda, o sentimento de ser aceito ou não. Daí a importância que a família, e não apenas o catequizando de um sacramento específica, merece receber ao longo do itinerário de iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal.
Neste contexto de mudança, a família moderna e seus membros, merecem ser acolhidos pela Igreja, sacramento do amor de Cristo, esperando o sinal concreto desse amor, o verdadeiro encontro com a pessoa de Jesus. Após o encontro, é preciso investir no acompanhamento daqueles que estão envolvidos no contexto eclesial, mesmo que interessados unicamente pelo sacramento a ser recebido.
A evangelização das famílias depende dos temas anteriores, a unidade de Catequese, Liturgia e Caridade e a conversão pastoral. As novas posturas dos agentes de pastoral irão mostrar o outro lado de uma pastoral de consumo sacramental. “Não vamos poder renovar a pastoral missionária e a pastoral de iniciação cristã sem as famílias, sem seu apoio e sem o apoio que a comunidade pode oferece-las. Apoio que é muito mais que algumas reuniões de pais de família às vésperas da celebração de um sacramento”, afirma o padre boliviano Manuel José Rodrígues.
O ambiente familiar é o local por excelência de despertar nos filhos as primeiras experiências de fé. As diretrizes de um Projeto diocesano de Iniciação à Vida Cristã contemplarão os momentos de acolhida, escuta e acompanhamento das famílias no início da caminhada em vista do itinerário de iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal.
“Espera-se que seja no cotidiano do lar, na harmonia e aconchego, mas também nos limites e fracassos, que os filhos experimentem a alegria da proximidade de Deus através dos pais. A experiência cristã positiva, vivida no ambiente familiar, é uma marca decisiva para a vida do cristão. A própria vida familiar deve tornar-se um itinerário de educação da fé e uma escolha de vida cristã. O futuro da evangelização depende em grande parte da Igreja doméstica” (Diretório Nacional de Catequese, 238).
Após a elaboração das pistas de ação que contemplem a inserção dos familiares desde o início o itinerário, a Equipe diocesana de Iniciação à Vida Cristã será convidada a despertar nas famílias o interesse de transmitir aos filhos e filhas o tesouro da fé que conservam no seio do lar, por meio de seus ritos e símbolos mais íntimos e peculiares.
Este é o apelo do papa Francisco na Exortação Amoris Laetitia: “a educação na fé sabe adaptar-se a cada filho, porque os recursos aprendidos ou as receitas às vezes não funcionam. As crianças precisam de símbolos, gestos, narrações. […] É fundamental que os filhos vejam de maneira concreta que, para os seus pais, a oração é realmente importante. Por isso, os momentos de oração em família e as expressões da piedade popular podem ter mais força evangelizadora do que todas as catequeses e todos os discursos” (AL 288). A transmissão da fé nasce na intimidade da convivência familiar. E as famílias de nossas comunidades precisam ser educadas para esta prática antiga de iniciar os seus membros na fé no contexto do lar.
A inserção dos pais, familiares e responsáveis no início do itinerário formativo permite que a comunidade desperte para a necessidade de estreitar os vínculos afetivos com a família e cresça em sua referência como testemunha da fé. Por este motivo, a comunidade é chamada a ser família de famílias, lugar onde se cultiva a experiência das primeiras comunidades com a oração cotidiana, no ensino da fé, no partir do pão e no serviço aos necessitados. Em âmbito menor, a família coopera na transmissão da fé por meio da leitura cotidiana da Palavra de Deus, momentos de orações em família, e a participação nas celebrações da comunidade, priorizando a missa dominical, memória semanal do Mistério Pascal de Cristo.
A ajuda eficaz para a comunidade familiar depende de ações concretas oriundas da comunidade. A acolhida da família, em suas configurações atuais, é sinal concreto do Evangelho que vai ao encontro das alegrias e angústias dos lares da sociedade moderna. Outro sinal concreto de evidenciar a família como lugar de transmissão e iniciação na fé é o acompanhamento. Esta atitude precisa ser aprendida e desenvolvida pela Equipe diocesana de Iniciação à Vida Cristã para conduzir a família ao seu papel de protagonista na educação da fé de seus membros.
Em vista disso, a família é ao mesmo tempo, lugar e interlocutora do itinerário de formação de discípulos missionários de Jesus Cristo. Acolher a família e acompanhar suas realidades por meio visitas desinteressadas, faz estreitar os laços entre família e comunidade, de maneira que que as celebrações comunitárias são verdadeiras festas da vida e da fé, que correspondem ao caráter distintivo no planejamento de um Projeto de Iniciação à Vida Cristã.
Aqui se pode perceber a função ministerial da comunidade que, no exercício da oração, das celebrações alegres e da caridade fraterna dá sustento para a família ao longo do itinerário da fé.
Ariél Philippi Machado