O cardeal Mauro Gambetti, novo arcipreste da Basílica de São Pedro esclareceu detalhes sobre a proibição da celebração de missas sem público nos altares laterais da basílica assim como a restrição da celebração de missas no rito pré-conciliar que agora só podem ser celebradas nas grutas do Vaticano.
O Cardeal Mauro Gambetti, afirmou no dia 22 de junho que pode ser permitido celebrar, em vez de concelebrar, missas matinais na Basílica de São Pedro em grupos “com necessidades particulares e legítimas”.
Em março, a Secretaria de Estado publicou uma comunicação publicada na sacristia da Basílica de São Pedro restringindo a celebração de missas individuais nos vários altares laterais da basílica.
A comunicação dizia que o motivo da mudança, que entrou em vigor em 22 de março, era garantir que “as Santas Missas na Basílica de São Pedro aconteçam num clima de recolhimento e decoro litúrgico”.
O documento que restringe as missas privadas na Basílica vaticana atraiu a atenção não só por seu conteúdo, mas também por seu formato e publicação inusuais.
A carta não estava acompanhada de nenhuma comunicação oficial do Vaticano e não havia nenhuma assinatura, exceto as iniciais do Arcebispo Edgar Peña Parra, que chefia a Primeira Seção da Secretaria de Estado, que não é o setor responsável pelas celebrações litúrgicas.
O documento tampouco foi endereçado ao Cardeal Gambetti – embora ele tivesse sido nomeado Arcipreste da Basílica de São Pedro em fevereiro – mas ao Arcebispo Mario Giordana, comissário extraordinário da Fábrica de São Pedro. Isto também é incomum, já que a Fábrica de São Pedro não trata de celebrações litúrgicas na basílica.
Os novos protocolos foram criticados pelos cardeais Joseph Zen, Robert Sarah, Raymond Burke, Gerhard Müller e Walter Brandmüller.
Anteriormente, os 45 altares e 11 capelas da parte superior da basílica do Vaticano eram usados para a celebração de missas diárias entre as 7h e 9h da manhã. Alguns dos padres que ofereciam missa o faziam com pequenos grupos de peregrinos ou locais, enquanto outros, alguns que inclusive trabalham como oficiais do Vaticano, ofereciam missa sozinhos na basílica antes de iniciar seu trabalho.
Essas missas individuais eram oferecidas além das missas diárias na basílica.
De acordo com o regulamento implementado em março, os sacerdotes foram convidados a concelebrar em uma das missas de língua italiana que já constam no horário.
Agora, as missas privadas só podem ser celebradas nas Grutas do Vaticano, que são capelas localizadas sob a Basílica de São Pedro. A missa oferecida na forma extraordinária do Rito Romano fica limitada à Capela Clementina, localizada nas Grutas vaticanas.
Outra exceção é que a missa pode ser celebrada no altar do túmulo de um santo, no dia de sua festa.
Em sua carta de 22 de junho, o Cardeal Gambetti enfatizou o valor da concelebração da Missa, conforme expresso na Consituição Sacrosanctum Concilium, a Constituição do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia.
“É preciso ressaltar que sempre que os ritos, de acordo com sua natureza específica, preveem uma celebração comunitária envolvendo a presença e a participação ativa dos fiéis, esta forma de celebração deve ser preferida, na medida do possível, a uma celebração que seja individual e quase privada”, escreveu Gambetti, citando a Constituição. “Isto se aplica com particular ênfase à celebração da missa e à administração dos sacramentos, ainda que cada missa tenha por si uma natureza pública e social”.
O cardeal continuou: “Um primeiro elemento de discernimento, em nosso contexto, é portanto este: sempre que possível, é mais que apropriado que os padres concelebrem, também devido ao fato de que uma alternância regular do presidente é prevista para as concelebrações que já acontecem regularmente na Basílica de São Pedro”.
Ele disse que o mesmo princípio se aplica a indivíduos e grupos de católicos, que são convidados a participar da mesma missa “para que ela seja uma expressão de fraternidade e não de particularidades que não refletem o sentido de comunhão eclesial manifestado pela celebração eucarística”.
Gambetti observou que são permitidas algumas exceções a estas disposições, no entanto, para “acolher e integrar, na medida do possível, os desejos particulares e legítimos dos fiéis”.
Ele enfatizou a importância de compreender a linguagem da liturgia, e “o valor pastoral que a celebração eucarística pode ter para um grupo de peregrinos”, quando celebrada em sua língua nativa.
O cardeal também mencionou outras razões pelas quais ele concordou que sejam feitas algumas exceções para que “grupos com necessidades particulares e legítimas” celebrem missas particulares. O prelado justifica as exceções ressaltando que o número de pessoas na Basílica de São Pedro das 7h às 9h da manhã geralmente é pequeno; que a basílica é suficientemente grande para permitir a possibilidade de oferecer uma missa privada sem sobrepor-se à missa concelebrada que se realiza em um altar principal; e que a basílica “é caracterizada pelo ministério petrino de unidade, misericórdia e ortodoxia da fé e acolhe peregrinos de todo o mundo”.
“Mesmo pedidos para celebrar individualmente de tempos em tempos podem ser objeto de discernimento, sem prejuízo do princípio de que tudo pode acontecer num clima de recolhimento e decoro e assegurando que o que tem o caráter de excepcional não se torne ordinário, distorcendo as intenções e o sentido do Magistério”, disse.
Quanto à celebração da missa na forma extraordinária do rito romano, Gambetti disse que “tudo deve ser feito para satisfazer os desejos dos fiéis e dos sacerdotes, como previsto pelo Motu Proprio Summorum Pontificum”.
Ele enfatizou o “caráter decisivo” da norma que proíbe a celebração de missas individuais ao mesmo tempo em que uma concelebração na mesma igreja, mas reconheceu “a legitimidade da celebração da missa de sacerdotes individuais, mesmo quando os fiéis não podem participar”.
“Estou confiante que o caminho iniciado favorecerá para cada sacerdote e cada fiel a possibilidade de viver as celebrações em São Pedro de uma maneira cada vez mais ordenada para o bem, para a beleza e para a verdade”, concluiu Gambetti.
Fonte: ACI Digital