Lembrando os 40 anos da Catechese Tradendae
Em 2019 a Exortação Apostólica Catechesi Tradendae (A Catequese do nosso tempo) completou 40 anos. Foi escrita pelo papa João Paulo II, a partir do que foi tratado na IV Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos, realizada em 1977. São orientações importantes a serem adaptadas às necessidade do “nosso tempo”, que agora é um pouquinho diferente. Catequistas falam em nome da Igreja. Para serem fiéis a essa missão precisam conhecer e trazer no coração o que a Igreja pede e afirma, fazendo , diante de cada realidade, a pergunta básica: qual é, aqui e agora, o melhor modo de comunicar a mensagem da nossa fé, que somos chamados a anunciar e testemunhar?
Catequese não é só transmissão de conhecimentos, é um mergulho no que Deus pede de nós em cada situação, um convite permanente à interação fé e vida, com respostas que precisam aparecer em nosso modo de viver e não apenas em palavras que declaram o que aprendemos. Por exemplo: no Natal de 2019, na minha paróquia, crianças que fizeram a Primeira Comunhão e jovens e adultos que receberam a Crisma foram, com seus pais e catequistas, levar ofertas e ajuda para 104 crianças pobres, cantando Noite Feliz e sentindo que assim estavam dando presentes para o Menino Jesus que, afinal, depois de ter crescido, afirmou: tudo o que fizestes a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes. (Mt 25,40). Isso é ligar a grande dádiva que recebemos nos sacramentos ao que Deus espera que façamos servindo ao próximo ao assumirmos nossa identidade de fé.
Catechesi Tradendae destaca o trabalho de todos os catequistas como algo fundamental na função da Igreja. Aos bispos recomenda: “a preocupação de promover uma catequese ativa e eficaz não ceda nada frente a qualquer outra preocupação, seja ela qual for.(…) se a catequese for bem feita nas vossas Igrejas locais, tudo o mais será feito com maior facilidade.” (CT 63) É fácil perceber a verdade dessa valorização. Religiosos consagrados, padres, bispos têm uma função catequética importante. Mas a maioria dos catequistas são leigos/as. Muitos desses leigos/as atingem espaços onde só eles conseguem chegar. São pessoas que até conhecem mais de perto a realidade concreta que cerca os catequizandos na nossa sociedade. Assim, todos juntos, somos chamados a levar a mensagem evangélica a esse nosso mundo tão necessitado da paz, da fraternidade, da justiça, do respeito mútuo que Jesus nos encarregou de promover. Nada disso se faz sem a interação de dois tipos de conhecimento: a mensagem do evangelho e as situações de nosso tempo.
Na introdução da Catechesi Tradendae se fala de uma “catequese baseada no essencial e ao mesmo tempo popular, constituída por gestos e por palavras simples, capazes de tocarem todos os corações.” Deseja-se uma catequese que “estimule a criatividade – com a requerida vigilância – e contribua para difundir nas comunidades a alegria de levar ao mundo o mistério de Cristo.” (CT 4). Ser ao mesmo tempo ligada no essencial e expressa em linguagem simples, adequada aos ouvintes, exige que os que trabalham na catequese tenham uma boa formação religiosa (que destaque o essencial) e um tipo de comunicação que, sem deformar a mensagem, a torne relevante para todos os que nela se envolvem. É a tão falada “interação fé e vida”.
O texto fala de criatividade. Catequese não é algo rotineiro, sempre igual. Cada participante e cada situação podem necessitar de novas formas de apresentar a mensagem evangélica. Essa criatividade vem com combinada com o que o texto chama de “vigilância”, ou seja: o cuidado para que as novas maneiras de apresentar os conteúdos sejam sempre fiéis ao que de fato o evangelho quer nos comunicar. Para isso cada catequista precisa ser bem preparado em relação ao conteúdo e bem aberto para novidades que combinem tanto com a mensagem como com as necessidades de cada situação e cada catequizando.
Resumindo: a Igreja está nos propondo um tipo de trabalho mais interessante, produtivo, que faz da catequese uma caminhada com gosto de novidade e firmeza. Percebemos como isso torna tudo mais emocionante?
Therezinha Motta Lima da Cruz
Foi assessora nacional de catequese, é autora de vários livros de catequese e ensino religioso.