O homem urbano atual tem muitas dificuldades em lidar com o tempo de repouso, e considerá-lo não um tempo vazio, mas de crescimento e harmonia espiritual. Parece que férias fosse o tempo de não fazer nada, ou fugir da mecânica, por vezes, estafante do trabalho. Assim, facilmente se cai no tédio e na monotonia de programações que podem ser mais danosas que o cansaço da tarefa laboral.
Para o cristão, o tempo de repouso é um tempo sabático de festa e lazer com o Senhor do tempo, que nos ensina a repousar no Espírito. Estar em férias é abrir-se para o inédito, deixar-se surpreender pela beleza e colorido da vida que não temos, às vezes, na rotina para contemplar e simplesmente desfrutar em silêncio.
Viver outra vez a presença de cada minuto como dádiva e dom divino, para despertar e iluminar todo nosso ser. Desembaçar o nosso olhar e as nossas narinas para experimentar a diversidade e criatividade do Deus criador na exuberante natureza.
Cultivar a ternura, afetos e sentimentos adormecidos ou até brutalizados, aprendendo a escutar e acolher o outro. Saborear a meditação como encontro gratuito e pleno com a Palavra, descendo ao núcleo mais profundo da interioridade e do coração.
Visitar, viajar, caminhar percorrendo rotas e jornadas espirituais de um turismo místico voltado para o absoluto e transcendente. Parar, recolher-se, unir-se resgatando a unidade perdida, ‘re-focalizando’ toda a nossa pessoa, assumindo com mais consciência o nosso projeto de vida.
Desobstruir os canais de comunicação na família, compartilhar jogos, saídas, ter tempo para brincar e participar plenamente das alegrias e buscas de cada integrante do grupo parental. Fazer as coisas sem pressa, procurando não só cumprir com uma tarefa, mas realizando-as com prazer e capricho, lembrando aquela frase de São José Maria Escrivá:
“Estai no que fazes e fazei o que deves”.
Relaxar sentindo o corpo, a respiração, as pulsações, inovando em dietas e culturas alimentares menos tóxicas e agressivas, readquirindo o gosto pela irmã água, pelos legumes e pelas frutas.
Escutar com delicadeza o gorjear dos passarinhos, os sons da criação e ter novamente a experiência fascinante de ver o sol nascer ou o crepúsculo do mesmo astro-rei. Desta maneira, as férias se tornarão num momento de graça, de profunda alegria, e nos trarão a felicidade de redescobrir o sentido e a paixão de viver.
Deus seja louvado!
Dom Roberto Francisco Ferreira Paz, Bispo Diocesano de Campos (RJ)
Fonte: A12