As questões relacionadas com a fraternidade e a amizade social sempre estiveram entre as preocupações do Papa Francisco. A elas, o Sumo Pontífice, se referiu repetidamente nos últimos anos e em vários lugares.
Na Encíclica Fratelli Tutti, Francisco quis reunir muitas dessas intervenções, situando-as num contexto mais amplo de reflexão. Além disso, se na redação da Laudato si’ ele teve uma fonte de inspiração no irmão Bartolomeu, o Patriarca ortodoxo que propunha com grande vigor o cuidado da criação, agora sentiu-se especialmente estimulado pelo Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, com quem se encontrou, em Abu Dhabi, para lembrar que Deus «criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e os chamou a conviver entre si como irmãos».
A Fratelli Tutti, portanto, reúne e desenvolve grandes temas expostos no documento que assinaram juntos. E aqui, na linguagem própria do Papa, ele acolheu também numerosas cartas e documentos com reflexões que recebeu de tantas pessoas e grupos de todo o mundo.
As páginas da Fratelli Tutti não pretendem resumir a doutrina sobre o amor fraterno, mas detêm-se na sua dimensão universal, na sua abertura a todos. “Entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras. Embora a tenha escrito a partir das minhas convicções cristãs, que me animam e nutrem, procurei fazê-lo de tal maneira que a reflexão se abra ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade”, afirma o Sumo Pontífice, na apresentação da Carta.
Comentários sobre a Encíclica do Papa Francisco
Numa série de lives, especialmente a realizada no 19 de outubro de 2020, pela Editora da CNBB, a Edições CNBB, convidados refletiram sobre a nova Carta Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco.
Dom Joel Portella, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse que na publicação o Papa caracteriza o mundo atual; “olha esse mundo com os olhos da Parábola do Bom Samaritano e depois indica o que fazer e como agir em um mundo fechado em tantas sombras”.
Já o padre Patriky Samuel Batista, secretário executivo das Campanhas da CNBB, salientou que a contribuição do julgar, da Encíclica, é a capacidade de interromper a rotina para se aproximar de fato do próximo. “Ver, compadecer e cuidar como verdadeiro estilo de vida para todos nós. O Bom Samaritano é essa belíssima inspiração para cada um de nós”, salientou.
Para ele, foi motivo de muita alegria – quando lendo a Encíclica – reconhecer em muitos momentos a presença da Campanha da Fraternidade e de como o Papa apresenta a fraternidade como uma alternativa num mundo marcado por sombras.
“Desde 1964, a Igreja Católica no Brasil vem contribuindo, acendendo luzes de esperança e solidariedade. Cada tema da CF nós podemos dizer que é uma resposta àquela pergunta que Deus fez: aonde está o teu irmão? Sem sombra de dúvidas eu acredito que a Fratelli Tutti , como a CF, nos apresenta mais uma ocasião para que a gente possa naturalizar a fraternidade e a solidariedade como forma de alternativas luminosas para a construção de um novo mundo”, salientou o padre.
Na compreensão do padre Paulo Renato, assessor político da CNBB, essa Encíclica não é só política, porque de acordo com ele, é a forma de viver o compromisso em favor dos outros. “É interessante vermos como ela revisa e retoma pontos essenciais da Doutrina Social da Igreja, principalmente a questão do bem comum e da dignidade da pessoa humana”, comentou.
Para ele, essa Encíclica é política porque é uma forma de viver o compromisso cristão como já afirmava Paulo VI em 14 de maio de 1971. “Ela fala de economia, principalmente, trazendo a necessidade de uma nova ordem social, o modo de lidar com a situação do mundo, com a questão econômico-política”, destacou.
O padre Marcus Barbosa, secretário adjunto de Pastoral da CNBB e assessor da Comissão para o Ecumenismo da entidade, salientou que a dimensão ecumênica está intrínseca na Fratelli Tutti. “O tom ecumênico, a dimensão do diálogo é muito viva, embora nós tenhamos na Encíclica o capítulo 8º, dedicado exclusivamente à questão das religiões a serviço da Fraternidade no mundo, mas não apenas o capítulo 8º, o estilo da carta encíclica é ecumênica”, enfatizou.
Padre Marcus disse ainda que a Encíclica foi concebida, gestada, nasceu da experiência ecumênica. “A gente lembra do nascimento da Laudato Si’, de como o Papa evidenciou o entusiasmo que ele recebeu do patriarca ortodoxo Bartolomeu”, alertou.
Por fim, a irmã Maria Irene dos Santos, assessora da Comissão para a Amazônia da CNBB, disse perceber que a Fratelli Tutti e a Laudato Si’ têm tudo a ver com o Papa Francisco. “É um homem que está pensando a partir do seu tempo e esses dois documentos têm o sentido dessa reflexão muito profunda a partir desse momento em que nós estamos vivendo”, destacou.
Ela acredita que a Laudato Si’ e a Fratelli Tutti estão caminhando juntas, principalmente quando falam da amizade social e da fraternidade universal. “São dois pontos muito importantes dessa Encíclica”.
Fonte: ACI Digital