Não se preocupe: a experiência da misericórdia divina dá energia e serenidade para estas últimas horas do Advento
Não é difícil imaginar que na noite de Natal São José não se sentisse preparado para a data tão importante.
Não era culpa dele, claro! Um censo atrapalhou o plano do casal. E ele, com certeza, sentiu que o grande dia havia chegado e ele não estava pronto para isso. De fato, ele tinha uma missão a cumprir como marido e pai e, apesar de seus melhores esforços, não via sucesso nessa empreitada.
Ele, então, sufocou as lágrimas viris de desespero quando disse a Maria que não havia quarto na pousada. Maria, sem pecado, fez o que pode para amenizar a frustração do esposo. Mas também se viu incapaz de fazer muito.
Portanto, o casal teve que se contentar com uma solução improvisada. Mas era melhor do que nada. E José, sem dúvida, se virou para criar um espaço o mais adequado possível para receber o menino. Ainda assim, foi tudo de última hora e dolorosamente faltando muito do que ele tinha sonhado três semanas atrás, no início de seu primeiro Advento.
Ainda assim, nesta cena, entrou a Palavra feita Carne, o Pequeno Misericordioso.
Nossa falta de preparação
Não enfrentamos as responsabilidades práticas que José enfrentou naquela noite. Nossos sentimentos de inadequação e e falta de preparo para o Natal não terão uma consequência direta na história da salvação.
Mas, mesmo que nossa realidade seja diferente, talvez muitos de nós compartilhemos os mesmos sentimentos de José. O que faremos com isso, agora que basicamente acabou o Advento e o Natal está chegando, estejamos nós prontos ou nao? O que fazemos com nossa fraqueza?
O estábulo sugere que devemos deixar Deus transformá-lo em algo bom.
Uma das facetas verdadeiramente inspiradoras do poder da misericórdia de Deus é como ele é capaz de reivindicar vitória sobre o mal. O sofrimento e a morte entraram no mundo por meio do pecado. E é precisamente por meio do sofrimento e da morte que Deus traz a salvação.
Podemos dizer, portanto, que Deus arranca as próprias armas de Satanás e as vira para derrotar seu dono. Em outras palavras: pecado, fraqueza, morte – as consequências da obra do diabo – podem se tornar as ferramentas da graça de Deus.
É por isso que São Paulo diz: “Sabemos que em tudo Deus trabalha para o bem” (Romanos 8,28). E também é por isso que o Catecismo explica: “a graça inexprimível de Cristo nos deu bênçãos melhores do que aquelas que a inveja do demônio havia tirado. … Não há nada que impeça a natureza humana de ser elevada a algo maior, mesmo depois do pecado; Deus permite o mal para atrair um bem maior” (CIC, 412).
No estábulo
Se nos colocarmos em contemplação ao lado de José no estábulo, talvez possamos encontrar nos animais – com o fedor que os acompanha – símbolos dos muitos vícios que não temos escolha, a não ser trazer ao Menino Jesus neste Natal. Não que quiséssemos trazer-lhe esses “presentes”, mas em nossa fraqueza, o pecado é o que podemos oferecer a Ele. Nossa falta de preparação para esta grande festa é tudo o que temos.
Lavados pela misericórdia deste pequeno bebê, entretanto, esses mesmos animais passaram a ser uma grande contribuição para o pequenino Menino.
Artistas retratam o calor da respiração deles protegendo a doce cabeça do Menino do frio. Bento XVI os considerou inclusive como “uma imagem de uma humanidade até então cega que agora, diante da criança, diante da humilde manifestação de Deus no estábulo, aprendeu a reconhecê-lo”.
Portanto, nossa falta de preparo para o Natal é um presente suficiente para Ele, e para dar esse presente não precisamos que o Advento se alongue magicamente.
A experiência da misericórdia divina dá energia e serenidade para estas últimas horas do Advento, afastando qualquer tentação de ficar emburrado de remorso ou de preocupações desnecessárias.
Então, aceitemos humildemente nossa falta de preparo, e que seja esse – com o boi e o jumento – o presente que oferecemos a Jesus. Se a pobreza do nosso Advento nos leva a voltar o olhar para o Menino, então, mais uma vez, Deus terá transformado a fraqueza em força e todas as coisas em bem.
Fonte: Aleteia