MADRI, 28 out. 20 / 09:10 am (ACI).- Um artigo recente publicado pelo jornal espanhol El País tenta atacar a Igreja Católica, seus santos e em particular o Beato Carlo Acutis, conhecido por seu apostolado na Internet e seu profundo amor pela Eucaristia, baseado em um estudo deficiente e desconhecimento do rigor com que se analisa cada caso de beatificação e canonização.
No artigo “Santos na Igreja pela graça de Deus (e do dinheiro)“, a jornalista Patricia R. Blanco reúne um estudo carente de rigor científico, segundo admitem seus próprios autores, e que durante décadas foi ignorado pelos estudiosos sérios de sociologia religiosa.
“78% das pessoas santificadas ou beatificadas pela Igreja Católica em 2.000 anos de história pertencem às classes altas”, escreve Blanco, citando Roman Catholic Sainthood and Social Status a Statistical and Analytical Study (Santidade Católica Romana e Status Social: Um Estudo Estatístico e Analítico), realizado por Katherine George e Charles H. George e publicado em 1955 no The Journal of Religion da Universidade de Chicago (Estados Unidos).
A jornalista de El País sugere então que a beatificação de Carlo Acutis se baseou na sua situação econômica, a qual descreve como “a alta burguesia turinesa”, e não em um milagre realizado por sua intercessão.
Ignorando a meticulosa análise científica pela qual passam os milagres realizados por intercessão dos candidatos a ser beatificados ou canonizados, Patricia R. Blanco afirma que “é impossível determinar se o milagre atribuído ao novo beato é verdadeiro, o de ter intercedido para que uma criança brasileira pudesse se curar de uma doença rara tocando um pedaço do pijama que Acutis usava”.
O milagre, acrescenta a jornalista de El País, não pode “ser demonstrado com fatos porque é uma questão de fé”.
O artigo publicado por Patricia R. Blanco em El País não é o primeiro no qual se usa este estudo deficiente em um esforço por atacar a Igreja Católica, seus santos e beatos.
A jornalista na verdade cita um artigo publicado em 2011 por Vicenc Navarro, membro do Podemos, partido espanhol de extrema esquerda, liderado por Pablo Iglesias, que usou o mesmo estudo deficiente para escrever “A classe social dos santos” no jornal espanhol Público, acusando a Igreja, especialmente na Espanha, de considerar como fator “determinante para outorgar a santidade a sua localização dentro das coordenadas do poder”.
Os artigos têm linhas semelhantes: enquanto Blanco escreve que “nenhum dos sacerdotes bascos que morreram nas mãos de membros do partido golpista” foi canonizado pela Igreja Católica, Navarro, nove anos antes, escreveu “sem jamais santificar os sacerdotes bascos assassinados pelo estado golpista”.
Uma pesquisa sem rigor científico
O estudo no qual Patricia R. Blanco se baseia não só carece do rigor científico necessário à época de sua publicação, há mais de meio século; mas também está gravemente desatualizado.
Dos quase 10 mil santos e beatos que a Igreja Católica possui, o estudo de Katherine George e Charles H. George cobre apenas 2.494 usando como um “guia básico” uma “edição revisada” nas primeiras décadas do século XX de “The Lives of the Fathers, Martyrs and Other Principal Saints” (As Vidas dos Padres, Mártires e outros Santos Principais), uma obra originalmente publicada pelo sacerdote católico Alban Butler no século XVIII.
Com a escassa informação que reuniram, Katherine George e Charles H. George concluíram que nos então quase 2.000 anos de história da Igreja, foram declarados majoritariamente santos ou beatos de “classe alta”, com 78%.
“Nossas estatísticas não pretendem ter uma precisão absoluta; obviamente, não poderíamos perder tempo indo às fontes primárias para testar a confiabilidade dos dados que nos deram as coleções de vidas de santos que usamos”, admitem Katherine George e Charles H. George na segunda página de seu trabalho.
Por exemplo, para a primeira metade do século XX, os autores do estudo em que se baseia a jornalista de El País consideraram apenas 3 santos ou beatos, embora o número atual de santos e beatos aprovados pela Igreja naquele período seja muito maior.
Entre 1904 e 1954, um ano antes da publicação do estudo de El País, os papas São Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII já haviam canonizado um total de 74 santos.
Ao deficiente trabalho de Katherine George e Charles H. George em 1955, a própria Patricia R. Blanco adiciona sua própria dose de desinformação, ao assegurar que desde meados do século XX até hoje, “mais de 350 pessoas foram santificadas ou beatificadas”.
A realidade é que durante a segunda metade do século XX e nos primeiros 20 anos do novo milênio, os santos canonizados por Pio XII, São João XXIII, São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e Papa Francisco são 1.520.
Somente o pontificado do Papa Francisco soma 898 santos canonizados, incluindo os 813 mártires de Otranto (Itália), assassinados pelos muçulmanos do Império Otomano no século XV.
Em seus nove anos de pontificado, o Papa Francisco aprovou a beatificação de mais de 1.200 fiéis, incluindo o agora beato Carlo Acutis.
São Francisco de Assis: O santo da pobreza é considerado de “classe média”
Os critérios que Katherine George e Charles H. George usaram para classificar os santos e beatos como “classe alta”, “classe média” e “classe baixa” também são questionáveis.
Embora não tenham explicado em detalhes seus motivos para categorizar cada santo ou beato, indicaram que classificaram São Francisco de Assis como “classe média”, apesar de a ordem que fundou ter entre suas regras que seus membros de “nada se apropriem, nem de casa, nem de lugar, nem de coisa alguma” e sirvam “ao Senhor na pobreza e na humildade”.
O meticuloso processo científico de um milagre
A afirmação sobre o milagre de Carlo Acutis da jornalista de El País demonstra seu total desconhecimento dos parâmetros científicos que a Igreja utiliza para declarar um milagre.
O processo de beatificação e canonização começa na diocese a que pertence o fiel falecido e é aberto pelo Bispo local e pelo Postulador da Causa, que apresentam um relato com sua vida e virtudes.
O caso é analisado pela Santa Sé, que pode dar o seu “Nihil obstat” para permitir o início da Causa. O candidato é então conhecido como Servo de Deus.
Para a beatificação, o Postulador da Causa deve provar à Congregação para as Causas dos Santos que o Venerável tem fama de santidade, bem como a realização de um milagre atribuído à sua intercessão.
O suposto milagre é examinado na diocese pelos médicos que trataram do caso em análise (independentemente das suas crenças ou afiliação religiosa) e depois pela Congregação para a Causa dos Santos, onde será rigorosamente analisado por cinco médicos especialistas de várias crenças religiosas.
Somente após a aprovação dos cientistas, o suposto milagre é analisado por teólogos e depois por um cardeal.
O milagre pelo qual Carlo Acutis chegou aos altares
Carlo Acutis, considerado o ciberapóstolo da Eucaristia, foi beatificado no dia 10 de outubro, depois que a análise minuciosa da Igreja concluiu que uma criança foi curada de uma doença grave graças à sua intercessão.
O menino do milagre se chama Matheus. Ele sofria de uma malformação congênita conhecida como pâncreas anular. Sua mãe, Luciana Vianna, rezou durante quatro anos por sua cura.
Segundo a imprensa brasileira, aos três anos e meio, a criança pesava apenas nove quilos e “se alimentava de uma substância que chamávamos de leite”, mas era uma batida com proteínas e vitaminas, pois seu “corpo não tinha tempo suficiente para absorvê-lo, (já que a batida) ficava apenas alguns minutos no estômago”.
Enquanto Luciana rezava intensamente pela saúde do filho. O Pe. Marcelo Tenorio, amigo da família, conheceu a vida de Carlo Acutis online.
Em declarações à Famiglia Cristiana, o postulador da causa de beatificação, Nicola Gori, disse que “no dia 12 de outubro de 2013, sete anos após a morte de Carlo, chegou a vez de uma criança afetada por uma malformação congênita (pâncreas anular) tocar a imagem do futuro beato”. Neste momento “expressou um desejo singular, como uma oração: ‘Gostaria de parar de vomitar’. Imediatamente começou a cura, a ponto de mudar a morfologia do órgão em questão”.
Explicaram para a criança que o pedido deveria ser feito do coração, mas ele pediu em voz alta para “parar de vomitar”. O sacerdote me perguntou o que era isso e eu fiquei sem resposta, disse a mãe.
Quando Luciana perguntou ao filho o que ele havia pedido, Matheus a surpreendeu ao responder que já estava curado graças a Carlo Acutis. Em casa, o menino pediu para comer e perguntou ao irmão qual foi a melhor comida que ele já havia experimentado. Ambos escolheram arroz, feijão, bife e batatas fritas.
A mãe serviu-lhe a quantidade que um adulto come, pensando que ele não iria comer, mas Matheus terminou a porção e pediu mais. Luciana esperou que a criança vomitasse a comida, mas isso não aconteceu.
Milagre alcançado por um menino brasileiro levará à beatificação de Carlo Acutis