Para nós, comunicar é estar no mundo para cuidar do outro, dos outros, é ser tudo para todas as pessoas; é compartilhar uma leitura cristã dos acontecimentos; é não se render à cultura da agressão e da difamação; é construir uma rede de compartilhamento do bem, do verdadeiro e do belo, feita de relacionamentos sinceros; é envolver os jovens em nossa comunicação: disse o Papa aos participantes do Simpósio “Universidade de Comunicadores da Igreja”, no discurso a eles entregue esta sexta-feira
Comunicar para nós não é sobrepujar com nossa voz a dos outros, não é propaganda; às vezes é também silêncio; não é esconder-se atrás de slogans ou frases de efeito. Para nós, comunicar não é concentrar tudo na organização, não é marketing; não é apenas adotar esta ou aquela técnica.
Foi o que disse o Santo Padre no discurso entregue aos participantes do Simpósio “Universidade de Comunicadores da Igreja” (um grupo de 150 pessoas), promovido pela Conferência Episcopal Francesa, recebidos pelo Pontífice esta sexta-feira, 12 de janeiro, na Sala Clementina, no Vaticano.
Francisco afirmou que gostaria de ler todo o discurso, mas por estar com um pouco de bronquite e não conseguir falar bem, entregaria a cópia do mesmo, agradecendo pela compreensão, por terem vindo e pelo trabalho que realizam, porque não é fácil se comunicar, mas é a primeira coisa que uma pessoa faz. A comunicação é a coisa mais humana que existe, disse.
Não apostar tudo no progresso tecnológico
Após dar as boas-vindas aos responsáveis pela comunicação das dioceses, congregações religiosas, associações e movimentos católicos, novas comunidades e paróquias na França, o Papa ressalta que a comunicação é a missão deles.
Uma grande missão, em um mundo tão hiperconectado e bombardeado de notícias. É por isso que vocês decidiram fazer uma parada de vez em quando – desta vez em Roma – para compartilhar, orar e ouvir. Como precisamos disso – enfatizou Francisco! Digo isso na primeira pessoa, porque o ministério do Papa hoje também está no mundo da comunicação.
E, portanto, prossegue o Pontífice, esses momentos servem para redescobrir a raiz daquilo que comunicamos, a verdade que somos chamados a testemunhar, a comunhão que nos une em Jesus Cristo; eles nos ajudam a não cair no erro de pensar que o objeto de nossa comunicação são nossas estratégias ou empreendimentos individuais; a não nos fecharmos em nossas solidões, nossos medos ou ambições; a não apostar tudo no progresso tecnológico.
Envolver os jovens em nossa comunicação
No discurso entregue, Francisco adverte que o desafio de uma boa comunicação é hoje mais complexo do que nunca, e o risco é abordá-lo com uma mentalidade mundana: com uma obsessão por controle, poder, sucesso; com a ideia de que os problemas são principalmente materiais, tecnológicos, organizacionais e econômicos.
Para nós, comunicar é estar no mundo para cuidar do outro, dos outros, é ser tudo para todas as pessoas; é compartilhar uma leitura cristã dos acontecimentos; é não se render à cultura da agressão e da difamação; é construir uma rede de compartilhamento do bem, do verdadeiro e do belo, feita de relacionamentos sinceros; é envolver os jovens em nossa comunicação, observa o Papa.
A este ponto de seu discurso, Francisco oferece a estes comunicadores da Igreja na França três palavras para a caminhada deles: testemunho, coragem e olhar amplo.
Testemunho
A primeira. Lembrem-se de que a comunicação é, acima de tudo, testemunho. E quando ela é feita de palavras, de imagens, é uma forma de compartilhar esse testemunho. É isso que nos torna críveis em nossa relação com a mídia secular; e é também isso que torna nossa rede de comunicação cada vez mais atraente e a faz crescer dia a dia, de pessoa para pessoa. Sei que, após a vergonha do escândalo dos abusos, a Igreja na França está em um caminho de purificação, frisou o Pontífice, exortando-os a seguirem adiante, a não hesitarem em construir a comunhão na Igreja e a fraternidade no mundo por meio da comunicação. Sejam criativos. Sejam acolhedores. A sociedade quer e precisa ouvir a palavra da Igreja como a Mãe amorosa de todos, disse ainda.
Coragem
A segunda palavra: não tenham medo, mas coragem. Uma coragem que é diferente da coragem daqueles que acreditam ser o centro. A coragem que vem da humildade e da seriedade profissional, e que faz de sua comunicação uma rede coesa e, ao mesmo tempo, aberta e extrovertida. Eu sei que não é fácil. Mas essa é a missão de vocês, nossa missão. E mesmo que os destinatários pareçam indiferentes, céticos, às vezes críticos e até hostis, não desanimem. Não os julguem. Compartilhem a alegria do Evangelho, o amor que nos faz conhecer Deus e compreender o mundo. Os homens e as mulheres de nosso tempo também têm sede de Deus, eles buscam um encontro com Ele e também O buscam por meio de vocês, disse ainda o Santo Padre.
Olhar amplo
A terceira palavra é olhar amplo. Olhar para longe. Olhar para o mundo inteiro em sua beleza e complexidade. Em meio aos murmúrios de nosso tempo, a incapacidade de ver o que é essencial, descobrir que o que nos une é sempre maior do que o que nos divide; e que isso deve ser comunicado, com a criatividade que vem do amor. Recordemos sempre disso. É uma verdade ignorada, mas é a caridade que explica tudo. Tudo se torna mais claro – até mesmo nossa comunicação – a partir de um coração que vê com amor, enfatizou, por fim, o Pontífice.
Fonte: Vatican News