Você já ouviu a frase segundo a qual Santo Tomás de Aquino recomendaria um bom sono, um banho e uma taça de vinho para espantar a tristeza? Saiba o que realmente está por trás dessa afirmação
Anavegar pela internet, você já deve ter-se deparado com uma frase bastante reconfortante atribuída a Santo Tomás de Aquino. Ela diz o seguinte: “a tristeza pode ser aliviada por um bom sono, um banho e uma taça de vinho”.
Isso sim é uma bela combinação! Uma taça de vinho antes ou depois de um bom banho pode ajudar a maioria de nós a dormir melhor — pergunte a qualquer um de seus amigos mediterrâneos em caso de dúvida. No entanto (e desculpe decepcionar) não é isso que Aquino disse.
Tomás de Aquino discute as curas para a dor na Segunda Parte da Summa Theologica, mais especificamente na questão 38 (Dos remédios da dor ou tristeza). Porém, enquanto o sono e os banhos são de fato recomendados, o vinho não aparece na lista.
De maneira tipicamente escolástica, Tomás de Aquino procede fazendo perguntas e levantando objeções a algumas respostas possíveis. Na maioria das vezes, essas objeções vêm de textos aristotélicos ou agostinianos. Para facilitar a leitura (e, portanto, o processo de pensamento), a questão é subdividida em cinco artigos concisos, porém abrangentes, que abordam os aspectos mais relevantes do problema em questão. Tomás de Aquino divide a Questão 38 da seguinte forma:
1.- se o prazer mitiga a dor ou a tristeza;
2.- se o pranto mitiga tristeza;
3.- se o amigo que se compadece conosco mitiga a tristeza;
4.- se a contemplação da verdade mitiga a dor;
5.- se o sono e o banho mitigam a tristeza.
Enquanto Tomás de Aquino escreveu de forma clara, concisa e diretamente ao ponto, a filosofia escolástica não é necessariamente sempre citável. Estes são processos de pensamento silogísticos minuciosos, muitas vezes meticulosos, que exigem paciência, conhecimento e atenção. Você pode ler a pergunta inteira aqui, mas se você não quiser filosofar, aqui está um resumo (bastante incompleto).
1.- Todo prazer traz um certo tipo de alívio dos tempos difíceis. Nem todo prazer será necessariamente o melhor remédio, mas alivia a tristeza.
2.- O choro é remédio para a dor por duas razões. Primeiramente porque “uma coisa dolorosa dói ainda mais se a mantivermos calada, pois a alma está mais atenta a ela”. Segundo, porque “uma ação que convém a um homem de acordo com sua disposição real é sempre agradável para ele”. Lágrimas e gemidos são ações condizentes com qualquer pessoa que esteja com tristeza ou dor.
3.- Os amigos são um remédio. Aqui, Aquino se refere a Aristóteles, que explica que:
– 1.: “quando um homem vê os outros entristecidos por sua própria tristeza, parece que outros carregavam o fardo com ele, esforçando-se, por assim dizer, para diminuir seu peso; portanto, o fardo da tristeza torna-se mais leve para ele”. e
– 2.: “quando os amigos de um homem se condoem com ele, ele vê que é amado por eles, e isso lhe dá prazer”. E “todo prazer traz alívio”.
4.- A contemplação da verdade é o melhor remédio para a dor por uma razão muito simples. Novamente, o prazer traz alívio, e “o maior de todos os prazeres consiste na contemplação da verdade”.
5.- Sim, o sono e os banhos são um remédio. Aquino diz que, “pela sua natureza específica, a dor é repugnante ao movimento vital do corpo” (ou seja, enfraquece-o, arrasta nossa energia e força). Consequentemente, “tudo o que restabelece a natureza corpórea ao seu devido estado de movimento vital, opõe-se à dor e a acalma ”. Banhos e sono “trazem a natureza de volta ao seu estado normal”.
Fonte: Aleteia