Papa Francisco compara o mal sofrido pelos indígenas com as ameaças à família

Papa Francisco. Créditos: Pixabay

Em seu quarto dia de visita ao Canadá, o papa Francisco defendeu a família e afirmou que o mal sofrido pelos povos indígenas deve servir de alerta para que os direitos dessa instituição não sejam afetados por interesses particulares.

O papa Francisco fez este chamado no discurso que dirigiu às autoridades, aos representantes indígenas e ao corpo diplomático credenciado no Canadá. O encontro aconteceu em Quebec, onde o papa chegou hoje (27).

Antes de pronunciar seu discurso, o papa Francisco ouviu as palavras do primeiro-ministro, Justin Trudeau, e da governadora-geral, Mary Simon, que lhe agradeceram por ter ido ao Canadá para realizar sua “peregrinação penitencial”.

Francisco voltou a pedir desculpas pela participação de instituições católicas nas “políticas de assimilação e alforria” promovidas há décadas pelas autoridades canadenses e que afetaram muitas crianças indígenas que foram separadas de suas famílias.

“É trágico quando crentes, como sucedeu naquele período histórico, se adequam mais às conveniências do mundo do que ao Evangelho”, disse o papa Francisco.

O papa ressaltou que esta “‘história de sofrimento e desprezo’, originada por uma mentalidade colonizadora, ‘não se cura facilmente'”.

No entanto, alertou que “a colonização não para; embora em muitos lugares se transforme, disfarce e dissimule”, como acontece com as “colonizações ideológicas”.

“Se outrora a mentalidade colonialista transcurou a vida concreta das pessoas, impondo modelos culturais pré-estabelecidos, também hoje não faltam colonizações ideológicas que afrontam a realidade da existência, sufocam o apego natural aos valores dos povos, tentando desenraizar as suas tradições, a história e os laços religiosos”, denunciou.

O papa disse que com esta mentalidade “estabelece-se uma moda cultural que uniformiza” e não tolera diferenças, concentrando-se “apenas no momento presente, nas necessidades e direitos dos indivíduos, negligenciando muitas vezes os deveres para com os mais débeis e frágeis: pobres, migrantes, idosos, doentes, nascituros…”.

“São eles os esquecidos nas sociedades do bem-estar; são eles que, na indiferença geral, acabam descartados como folhas secas para queimar”, disse.

Fazendo referência à folha de acerácea, símbolo que figura na bandeira canadense, o papa ressaltou que, ” como cada folha é fundamental para enriquecer a ramagem, assim também cada família, célula essencial da sociedade, há de ser valorizada, porque ‘o futuro da humanidade passa pela família’”.

O papa afirmou que “é a primeira realidade social concreta, mas está ameaçada por muitos fatores: violência doméstica, frenesia do trabalho, mentalidade individualista, carreirismo desenfreado, desemprego, solidão dos jovens, abandono dos idosos e dos enfermos…”.

Diante disso, assegurou que “as populações indígenas têm tanto para nos ensinar sobre a guarda e a tutela da família, onde se aprende, já desde criança, a reconhecer o que está certo e o que é errado, dizer a verdade, partilhar, corrigir os erros, recomeçar, animar-se, reconciliar-se”.

“Que o mal sofrido pelos povos indígenas nos sirva hoje de alerta, para que o cuidado e os direitos da família não sejam postos de lado em nome de eventuais exigências produtivas e interesses individuais”, disse.

Compromisso da Igreja com os povos indígenas

Em seu discurso às autoridades, o papa Francisco lembrou que “a fé cristã desempenhou um papel essencial na modelação dos ideais mais elevados do Canadá”.

Francisco disse que “a Santa Sé e as comunidades católicas locais nutrem o desejo concreto de promover as culturas indígenas” e expressou o desejo da Igreja de renovar a relação com os povos indígenas do Canadá, ” marcada quer por um amor que deu excelentes frutos, quer – infelizmente – por feridas que estamos esforçando-nos por compreender e sanar”.

Os grandes desafios atuais

Diante das autoridades canadenses, o papa Francisco disse que “os grandes desafios de hoje, como a paz, as alterações climáticas, os efeitos da pandemia e as migrações internacionais têm em comum uma constante: são globais, afetam a todos”. “E se todos eles falam da necessidade do conjunto, a política não pode ficar prisioneira dos interesses de parte”, disse.

O papa Francisco reiterou seu apelo por uma relação fluida entre gerações, em um diálogo entre jovens e idosos. “Para recuperar memória e sabedoria, escutar os idosos, assim também, para haver ímpeto e futuro, é preciso abraçar os sonhos dos jovens. Estes merecem um futuro melhor do que aquele que estamos a preparar-lhes, merecem ser envolvidos nas opções para a construção do hoje e do amanhã, particularmente para a salvaguarda da casa comum, para a qual são preciosos os valores e ensinamentos das populações indígenas”, afirmou.

Esta foi a última atividade do papa Francisco em seu quarto dia de visita ao Canadá.

Amanhã (28), o papa celebrará a missa no santuário nacional de Santa Ana de Beaupré. À tarde, celebrará as vésperas com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas e agentes pastorais na catedral de Notre-Dame de Québec.

Fonte: ACI Digital

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *