O pecado é, sempre, uma desobediência a Deus e uma falta de confiança na Sua bondade (CIC* no 397), bem como muma ofensa a Deus e ao próximo por um amor desordenado de si mesmo (CIC no 1850). A sua origem está diretamente relacionada ao egoísmo e ao orgulho, que invertendo a ordem natural dos valores leva o ser humano a colocar-se pretensamente acima de Deus, do Seu amor, das Suas leis, e, consequentemente, de toda a Sua Criação – que inclui toda a Natureza, os outros seres humanos e, muito logicamente, a si mesmo. Pode-se afirmar, sem chance de erro, que o pecado é sempre um ato de “pouca inteligência” (para sermos delicados…), não só porque de fato atua contrariamente à Razão, mas porque suas consequências inevitavelmente nos prejudicam naquilo que é o único valor essencial da vida e da existência humanas: a comunhão com Deus.
Isto fica claríssimo quando lembramos que o ser humano, cada um e qualquer um, em qualquer tempo, cultura e espaço geográfico, é imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27), portanto Seus filhos queridos, desejados, cada qual especialmente, como se fosse o único: ninguém é concebido “por acaso”, pois, na medida em que dá liberdade ao ser humano para participar na geração de novas vidas humanas, no aspecto corporal, é Deus mesmo Quem infunde a alma espiritual, infinita e absolutamente particular de cada ser humano (no momento do encontro do espermatozoide masculino com o óvulo feminino).
Ora, se fomos criados com e pelo – e para! – o amor infinito de Deus, excolhermos nos separar deste Amor não pode de forma alguma nos trazer qualquer benefício. Toda a nossa existência está vinculada a este Amor; afastarmo-nos Dele é, em termos simples, um suicído insano. Toda a nossa vida, que é infinita após a ressurreição dos corpos, depende desde já da permanência neste Amor, pelo Qual recebemos aquilo que nos dá a verdadeira Vida. O Pecado Original é justamente o primeiro ato de desobediência a Deus, no qual o ser humano, tendo preferido acreditar na mentira do diabo ao invés de permanecer na Verdade paradisíaca que já desfrutava com Deus (!), recusou os dons Dele recebidos. Tais benefícios, uma vez recusados, perdidos, já não puderam fazer parte da herança aos filhos de Adão e Eva – nós. Mas, na verdade, cada um de nós tem que fazer as próprias escolhas, individualmente, e portanto não se pode simplificadamente culpar os nossos primeiros pais e esperar que não tenhamos também as suas mesmas responsabilidades, de escolher entre o que Deus nos dá e ensina, e o nosso egoísmo.
Mas Deus sabe das nossas debilidades e fraquezas, e por isso mesmo, como Seu amor por nós não diminuiu, nos concedeu a Salvação deste Pecado pela Páscoa de Jesus – Deus feito Homem, para que um Homem, responsável pelo Pecado Original, recebesse o justo castigo. E não só pagou o Pecado Original, permitindo que pudéssemos novamente obedecê-Lo (isto é, aceitar de novo tudo o que de bom nos quer dar), como nos deixou os Sacramentos, incluindo o da Confissão, de forma que, mesmo que o desobedeçamos de novo, tenhamos como nos arrepender, penitenciar e voltar à comunhão com Ele. Só nos afastaremos definitivamente de Deus – no inferno – se conscientemente nos recusarmos, até o fim, em aceitar o Seu amor…
O pecado destrói porque nos afasta da essência do que somos: filhos, imagem e semelhança de Deus. E é óbvio que não se pode ser feliz agindo contra aquilo que é a sua própria natureza. Sim, somos fracos e pecamos, mas não é isto o importante para Deus: Ele quer apenas que, sempre, sempre, sempre, voltemos para Ele.
*Catecismo da Igreja Católica
Fonte: A12