Por que devemos agir como o Bom Samaritano

Mosteiro de Kykkos, Chipre, mosaico. Philippe Lissac/GODONG

Mais do que nunca, há muitos feridos em nosso caminho e não podemos passar por eles e desviar

No último domingo, 11 de abril, vivemos mais uma Festa da Misericórdia diferente. Respeitando o distanciamento social, pregamos sobre como sermos novas criaturas depois disso tudo. Estamos vivendo uma experiência mundial e temos a obrigação de aprender com ela. A solidariedade se faz muito necessária e por isso, gostaria de aqui refletir sobre a Parábola do Bom Samaritano.

Se você ainda não conhece vale a pena ler Lc 10,25-37 e aprender que Deus nos faz um apelo para que sejamos como Jesus, o Bom Samaritano, por excelência. Jesus apresenta a parábola depois de questionado sobre quem é o nosso próximo.

Sejamos sinceros: se pudéssemos escolher nosso próximo e o momento de fazer a caridade seria mais fácil. Entretanto, o próximo se impõe e a necessidade do outro não escolhe horário. O “próximo” não somos nós que escolhemos, é a vida que nos interpõe. Ninguém pode escolher seu “próximo”, é o momento que nos traz. Podemos estar saindo para comprar pão e o “próximo” estar ali, entre a casa e a panificadora. Às vezes, o próximo se coloca em nossa vida como se colocou na vida do sacerdote que virou as costas e foi embora, na vida do levita que também passou e não se tocou.

Jesus, o Bom Samaritano

Voltando ao primeiro raciocínio, Jesus é o Bom Samaritano. Quando Jesus conta a parábola, está falando isso e nós somos chamados a sermos hoje Bons Samaritanos. Fico pensando naquele homem que apanhou dos ladrões e foi deixado, todo machucado, quase morto e Jesus diz que o samaritano o levou para a hospedaria.

Jesus é aquele que é capaz de passar pelos caminhos e acolher aqueles que estão precisando de misericórdia. Ele os leva para a hospedaria, que é seu coração. Conforta-me pensar que Jesus age dessa forma, recolhendo aqueles que caíram, e se perderam, porque se não nos cuidarmos nos perdemos.

A misericórdia no dia a dia

Por isso, quanto mais pudermos, sejamos misericordiosos. Perdoemos mais, se alguém nos fez alguma ofensa, perdoemos. Quando tivermos oportunidade de revidar, não revidemos. Se alguém nos fizer mal, nos fizer desaforos e tivermos oportunidade de passar para a frente, falar mal, mesmo que estejamos cobertíssimos de razão. É nessa hora que somos chamados a dizer: “Não, eu não vou falar. Eu vou relevar”. Isso conta pontos no céu e Deus agirá dessa forma conosco. Sempre fique com essa imagem: “Eu quero ser o Bom Samaritano”.

Todo mundo gosta de elogiar o Bom Samaritano, mas eu também gosto de elogiar o hospedeiro. Penso que primeiro o dono da hospedaria recebe uma pessoa ferida, trazida por um forasteiro que diz: “Eu te dou esse dinheiro faça tudo que você puder por ele, se gastar mais, na volta eu te pago”. Quem garante que ele pagaria? Quem garante que ele vai voltaria? Para mim, o hospedeiro e a própria hospedaria é o Coração de Jesus e é esse coração de Deus, que acredita, que não importa se vai receber ou não. Que quer curar, quer libertar.

Compaixão

Olhemos para as suas chagas o desprezo e a traição que sofreu e nem por isso deixou de acolher a todos em seu coração. Jesus viu a humanidade caída e compadeceu-se. Ele viu que o ser humano foi assaltado, roubaram das pessoas a esperança, tiraram das pessoas a fé. Os acontecimentos da vida minam, tiram, esfacelam a imagem de Deus em nós e deixam-nos machucados e desfalecidos à beira do caminho. Mas, podemos contar com a misericórdia divina, pois Jesus se tornou um de nós, Ele desceu até nós e encheu-se de compaixão.

Ele levantou o gênero humano assumindo nossas culpas e levando consigo nossas dores. Ele nos tomou nos braços, derramou seu sangue para nos lavar do pecado e nos ofereceu o óleo de seu Espírito. Carregou-nos e levou-nos à hospedaria da casa do Pai, que é a Igreja. Jesus já pagou as despesas na cruz, deu tudo o que tinha. Entregou as duas moedas de prata, o sangue e a água que saíram de Seu Coração transpassado e disse: Eu voltarei e tudo que a Igreja faz e tudo o que também nós fizermos a mais para aqueles que estão caídos Ele restituirá em graças.

Necessidade de agir

Tenho observado como as pessoas realmente estão machucadas, como estão precisando que ajamos como o bom samaritano. Há muitos feridos em nosso caminho e não podemos passar por eles e desviar. Às vezes, nós somos miseráveis também na ajuda ao próximo, o que a nossa direita faz a nossa esquerda já cobrou faz tempo ou nossa língua fica contando para todo mundo e vai se inflando nosso ego. Sinceramente, se for para se vangloriar e se envaidecer, o gesto perde o sentido.

Jesus nos ensina que a compaixão é uma atitude tão profundamente humana quanto divina. Por isso, deixemo-nos amar pelo Bom Samaritano e amemos nosso próximo como Bom Samaritano.

Pe. Reginaldo Manzotti

Fonte: Aleteia

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