A Secretaria Geral do Sínodo da Sinodalidade criou novos grupos de trabalho e estudo para a celebração da sua segunda sessão no próximo mês de outubro.
Dois documentos foram divulgados sobre esses grupos ontem (13). O primeiro _Como ser uma Igreja sinodal em missão? Cinco perspectivas para aprofundar teologicamente em vista da Segunda Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos_ diz que a Igreja está engajada em “uma nova fase consultiva, partindo da pergunta orientadora: ‘Como ser uma Igreja sinodal em missão'”.
A atenção centrar-se-á “no tema da participação de todos, na variedade de vocações, carismas e ministérios” cujo aprofundamento teológico será articulado “em três níveis, diferentes, mas interdependentes”: Igreja local; Igrejas nacionais, regionais ou continentais; e “toda a Igreja na relação entre o primado do bispo de Roma, a colegialidade episcopal e a sinodalidade eclesial”.
O documento diz que as sínteses deste segundo processo de consulta deverão ser enviadas à secretaria geral do sínodo antes de 15 de maio de 2024 e servirão de base para a preparação do Instrumentum laboris juntamente com outros materiais, que serão preparados, entre outros, por cinco grupos de trabalho recentemente criados.
Os cinco grupos de trabalho
Três deles centrar-se-ão nos três níveis eclesiais mencionados, enquanto outros dois abordarão dois eixos transversais: O método sinodal e O ‘lugar’ da Igreja sinodal na missão.
O grupo dedicado a explorar O rosto missionário sinodal na Igreja local abordará questões como “o significado e as formas do ministério do bispo diocesano” ou a “introdução de estruturas e processos de verificação periódicos do trabalho do bispo diocesano e daqueles que exercem um ministério ordenado ou não)”.
Também abordará “a presença e o serviço dos ministérios instituídos e dos ministérios de fato”, valorizando “os carismas e o papel dos leigos” e considerando “a oportunidade de estabelecer novos ministérios”. “Deve ser dada especial atenção ao reconhecimento e valorização da contribuição das mulheres e ao aumento das responsabilidades pastorais que lhes são confiadas”, acrescenta o texto.
O segundo Grupo de Trabalho, referente aos grupos eclesiais, irá rever, entre outras questões, as formas de “troca executiva de dons entre as Igrejas” e o estatuto das conferências episcopais, “aumentando também a sua própria autoridade doutrinária e disciplinar, sem limitar o pode próprio de cada bispo na sua Igreja nem do bispo de Roma”.
A equipe multidisciplinar dedicada a examinar O rosto missionário sinodal da Igreja universal considerará “a questão da relação entre a sinodalidade eclesial, a colegialidade episcopal e o primado do bispo de Roma”.
Assim, procurar-se-á aprofundar a “doutrina do primado petrino”, o papel da Cúria Romana ou “a identidade peculiar do Sínodo dos Bispos, articulando em particular o papel específico dos bispos e a participação do povo de Deus em todas as fases do processo sinodal”.
A reflexão sobre O Método Sinodal tentará abordar quatro dimensões do processo de escuta mútua: espiritual, institucional, procedimental e litúrgica. Isto inclui estudar “um melhor esclarecimento da configuração da ‘conversa no Espírito’” e “a articulação entre elaboração de decisão (decision making) e tomada de decisão (decision taking) na perspectiva eclesiológica da relação entre a participação de todos e o exercício específico da autoridade por alguns”.
O quinto Grupo de Trabalho é responsável por abordar a questão transversal sobre O “lugar” da Igreja Sinodal na missão, entendendo que “vivemos num tempo em que a relação das pessoas e das comunidades com a dimensão do espaço está mudando profundamente”.
Isto implica explorar “o desenvolvimento de uma eclesiologia atenta à dimensão cultural do Povo de Deus”, fenômenos migratórios ou “o impacto da cultura do ambiente digital e das novas tecnologias na noção do ‘local’”, entre outras questões.
Estes Grupos de Trabalho serão norteados, segundo o texto apresentado hoje (14), por quatro princípios transversais de referência: 1) A missão de evangelização como motor e razão de ser da Igreja. 2) a promoção da participação na missão, que é dom e responsabilidade de todos os batizados, no exercício ativo do sensus fidei e dos seus respectivos carismas, em sinergia com o exercício do ministério de autoridade dos Bispos. 3) A articulação entre o local e o universal, considerando ao mesmo tempo a pluralidade e a coerência dos níveis intermédios. E 4) O caráter primordialmente espiritual do processo sinodal.
Além destas áreas, a Secretaria Geral do Sínodo diz que continua o trabalho em “duas diretrizes identificadas no Relatório Síntese da Primeira Sessão”. Trata-se de “manter viva a dinâmica sinodal nas Igrejas locais” e “aprofundar, de forma sinodal, uma série de temas de grande importância”.
Dez grupos de estudo
Para estas questões, serão formados Grupos de Estudo sobre dez temas propostos pelo papa Francisco, que estão detalhados no segundo documento apresentado hoje (14) pela Secretaria do Sínodo e que se intitula Grupos de Estudo sobre temas que surgiram da Primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos para aprofundar em colaboração com os Dicastérios da Cúria Romana.
Este documento diz que, como resultado da primeira sessão do Sínodo da Sinodalidade, “surge uma série de questões relevantes relativas à vida e à missão da Igreja numa perspectiva sinodal, sobre as quais a Assembleia alcançou um consenso consistente, quase sempre superior a 90%” e que deve ser tratado com a colaboração dos Dicastérios da Cúria Vaticana.
São assuntos que “afetam a fisionomia e o estilo de uma Igreja sinodal” e cujo “aprofundamento exige ser realizado de forma autenticamente sinodal, envolvendo especialistas de todos os continentes, reforçando a colaboração interdicasterial e configurando assim um laboratório prático de sinodalidade”.
O papa Francisco, numa carta dirigida no dia 24 de fevereiro ao secretário-geral do sínodo, cardeal Mario Grech, disse que se trata de questões “relacionadas em diversos graus com a renovação sinodal da Igreja e não isentas de repercussões jurídicas e pastorais”, que requerem “um estudo aprofundado” que não pode ser abordado durante a segunda sessão da assembleia sinodal.
Na carta, o papa diz que estes grupos de estudo “apresentarão um primeiro relatório das suas atividades na segunda sessão e, se possível, concluirão o seu mandato em junho de 2025”.
Estes são os dez assuntos que estes Grupos de Estudo irão discutir:
1. Alguns aspectos relativos às relações entre as Igrejas orientais católicas e a Igreja latina.
2. A escuta do grito dos pobres.
3. A missão no espaço digital.
4. A revisão da Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis numa perspectiva sinodal missionária.
5. Algumas questões teológicas e canônicas relativas a formas ministeriais específicas.
6. A revisão, numa perspectiva sinodal e missionária, dos documentos sobre as relações entre bispos, vida consagrada, agregações eclesiais.
7. Alguns aspectos da figura e do ministério do bispo (em particular: os critérios de seleção dos candidatos ao episcopado, a função judicial do bispo, a natureza e o desenvolvimento das visitas ad limina Apostolorum) numa perspectiva missionária sinodal.
8. O papel dos Representantes Pontifícios numa perspectiva sinodal missionária.
9. Critérios teológicos e metodologias sinodais para um discernimento partilhado de questões doutrinais, pastorais e éticas controversas.
10. A recepção dos frutos do caminho ecumênico na práxis eclesial.
A Secretaria Geral do Sínodo diz que “ficam excluídos da lista indicada pelo Santo Padre, os temas do IdS que serão objeto de discernimento” na segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade no próximo outubro.
No entanto, também observa que “não é possível traçar uma linha clara de demarcação entre os temas abordados pelo trabalho da segunda sessão e aqueles incluídos na lista” proposta pelo papa Francisco.
Para a formação destes Grupos de Estudo é necessário o envolvimento de especialistas, bispos de diferentes partes do mundo “identificados de acordo com a sua competência e tendo o cuidado de respeitar a variedade de origens geográficas, áreas disciplinares, gênero e condição eclesial necessária para uma abordagem autenticamente sinodal.”
Em setembro de 2024, eles devem entregar “um breve relatório com instruções sobre o assunto” do estudo e concluir seu trabalho “se possível, antes do final de junho de 2025”.
Fonte: ACI Digital