Na atualidade é muito comum homens chegarem a uma certa idade e refletirem sobre um novo caminho para sua realização vocacional.
Muitos deles foram felizes como esposos, têm filhos, são independentes financeiramente, são realizados em sua vida, mas algo os toca em seu íntimo e eles desejam dar um passo em uma outra vocação, no caso, no sacerdócio ou na vida consagrada.
É certo que o chamado de Deus não tem idade. Mas será que existe uma idade limite para seguir um processo vocacional? Será possível seguir a vocação para padre ou religioso acima dos 50 anos?
Em muitas congregações religiosas e dioceses existem relatos de homens que conseguiram prosseguir na vocação religiosa e sacerdotal acima dessa idade. Mas não é uma realidade que diz respeito a todos que buscam esse caminho.
O frater Jonathan Antônio da Silva, estudante de Teologia, integra o Secretariado Vocacional Redentorista que faz o acolhimento dos vocacionados da congregação. É ele quem vai refletir sobre a vocação que surge numa idade avançada e abrir pistas para compreender melhor o tema.
A12 – Como a Igreja acolhe/entende o desejo de muitos homens em se consagrar ou ser padre após os 50 anos?
A Igreja é sábia e procura em seu “colo” ter pessoas que a guiem com todo cuidado possível. Por isso, geralmente no processo vocacional ou etapa inicial formativa de Congregações ou Dioceses, na maioria das vezes a idade máxima para entrar no seminário é de 30 anos. Por isso, quando se passa desta idade base a Igreja sugere que tenha um acompanhamento diferenciado mais próximo, para que esses acompanhados possam de algum modo corresponder melhor a esse processo proposto para vida ministerial sacerdotal ou a vida religiosa.
A12 – Existem Congregações religiosas e dioceses que acolhem os interessados a partir dessa idade?
Para os casos acima dos 30 anos, geralmente algumas dioceses fazem acompanhamento para o diaconato permanente, ou seja, alguns homens chamados por Deus servem a Igreja sendo diáconos eternamente, alguns até casados e tendo sua família. Porém, como foi dito acima, é necessário todo um preparo e aprovação da autoridade maior que no caso seria o Bispo.
No caso das congregações religiosas, para se tornar irmão consagrado ou mesmo sacerdote, a instituição que tem um projeto voltado para vocações a partir dessa idade, cabe ao provincial, seu conselho e equipe de formadores deferirem o pedido destes candidatos.
Nesse caso específico, para os Redentoristas da Província de São Paulo, o candidato para fazer um acompanhamento vocacional deve ter a idade de 28 a 35 anos, entre outros quesitos específicos para o Projeto Vocações Adultas.
:: Quem pode ser diácono permanente?
A12 – Para quem deseja ser um Redentorista e não se enquadra na idade do Projeto Vocações Adultas, qual é o encaminhamento e orientação?
Apenas os Redentoristas da Província de São Paulo têm esse projeto. É necessário que o candidato viva nos limites geográficos dessa província. Os que passaram dessa idade, aconselhamos para que possam exercer sua missão como leigo em sua comunidade/paróquia ou a buscar o diaconato permanente em sua diocese.
A12 – Existem impedimentos (sacramentais, etc.) para quem deseja se tornar religioso ou padre, quando há abertura de congregações religiosas, dioceses e outros?
Sim. Em consonância com Direito Canônico e as Diretrizes para formação de cada Diocese ou Congregação deve-se observar a vida de cada candidato. Por exemplo: um impedimento ao candidato é ter já assumido o Sacramento do Matrimônio, ser separado e ter tido filhos e esses forem dependentes do mesmo. Existem muitos quesitos a serem levados em conta, como a índole da pessoa, a participação na vida sacramental e pastoral, as motivações vocacionais, a formação acadêmica, etc.
A12 – A Bíblia traz algum exemplo de homem que se consagrou a Deus com idade avançada?
Na Bíblia existem diversos tipos de consagração. Podemos dizer que há vocações adultas, perfis de seguimentos à proposta de Deus para assumir uma vocação e missão dadas por Deus. Podemos ainda afirmar que no Antigo Testamento encontramos uma visão positiva da velhice como benção, plenitude e cumprimento cheio e fecundo dos objetivos da vida. Isto é verdade quando se refere ao envelhecimento do justo, ou seja, daquele que segue a Lei. De Abraão, narra-se que “morreu em ditosa velhice. E foi reunido aos seus” (Gn 25,8); Jó, justo provado pela mão do Senhor, já em meio aos sofrimentos que sobre ele se abatem, recebe d’Este a promessa: “Entrarás na tumba em robusta velhice” (Jó 5, 26).
No Novo Testamento, aparece claramente que o homem não tem nenhum poder ou influência sobre sua idade física, já que ela é um dom do criador. E é o próprio Jesus que diz em (Mt 6,27; Lc 12,25)
Portanto, diante desse tempo que passa e os efeitos que vão surtindo em seu corpo, a mente e a potência, o homem é chamado a crescer em maturidade, em virtudes, em graça e sabedoria até atingir a estatura. São Paulo resume esse processo paradoxal que deve ser o do cristão, ou seja, daquele que vive a vida nova em Cristo.
A12 – A religiosidade, como um todo, aumenta quando envelhecemos? Explique.
A religiosidade normalmente vem do “berço” do contexto familiar, da comunidade natal onde se cresce. Através disso, nota-se que com o passar do tempo cada pessoa não “aumenta sua religiosidade”, mas sim a “amadurece”, assim vamos aumentar sim a certeza do caminho a trilhar, pela escuta de Deus e da compreensão de nossa vocação por Ele confiada e da nossa atitude de responder com mais segurança.
A12 – Deixe uma palavra de encorajamento para esses homens.
“Servi ao Senhor com alegria” (Sl 100, 2). Na Igreja não há somente a vocação sacerdotal e religiosa, é preciso ter em mente que nela a vocação leiga tem suma importância. Todos os leigos podem anunciar Jesus Cristo em lugares onde os bispos, os padres e os religiosos e religiosas não podem chegar.
A vocês que sentem o despertar a vocação a partir dos 50 anos, tentem sentir primeiramente o compromisso de evangelizar as famílias como verdadeiros discípulos missionários leigos. Assumam sempre o compromisso de serem os sujeitos da evangelização na construção do Reino de Deus. Em nossas comunidades existem diversas pastorais carentes de colaboradores para sua missão continuar viva e frutuosa. Que a Virgem Maria, Nossa Senhora Aparecida, os proteja e os dê a graça do discernimento hoje e sempre.
Fonte: A12