“Os mandamentos que Deus nos deu não devem ser trancafiados nos cofres asfixiantes da observância formal, caso contrário, permanecemos em uma religiosidade exterior e distante, servos de um “deus patrão” e não filhos de Deus Pai”, ressaltou o papa Francisco hoje (12), antes da oração do Angelus.
Apoiado no Evangelho de Mateus 5,17-37, do VI Domingo do Tempo Comum, Francisco destacou o trecho: “Não penseis que vim para abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. E disse que a “palavra-chave para entender Jesus e sua mensagem” hoje, é “dar cumprimento”. E perguntou “o que isso significa? ”
Segundo o papa, “o Senhor começa por dizer o que não é cumprimento”. Pois “a Escritura diz “não matarás”, mas para Jesus isto não é suficiente se depois se ferem os irmãos com as palavras. A Escritura diz “não cometerás adultério”, mas isto não é suficiente se depois se vive um amor manchado por duplicidade e falsidade. A Escritura diz “não jurarás falsamente”, mas não é suficiente fazer um juramento solene se depois se age com hipocrisia”. E ressaltou: “Assim, não há cumprimento”.
Francisco comentou que o “rito da oferenda” é o modelo que Jesus nos ensina hoje, visto que, “ao fazer uma oferenda a Deus, se retribuía a gratuidade de seus dons”. E este rito era “muito importante, tanto que era proibido interrompê-lo, exceto por motivos graves”. E “Jesus afirma que é preciso interrompê-lo se um irmão tem algo contra nós, a fim de ir primeiro reconciliar-se com ele (cf. vv. 23-24): só então o rito se cumpre”, E destacou: “A mensagem é clara”.
“Deus nos ama primeiro, gratuitamente, dando o primeiro passo em direção a nós sem que o mereçamos; e então não podemos celebrar seu amor sem, por nossa vez, dar o primeiro passo para nos reconciliarmos com quem nos feriu. Assim, há cumprimento aos olhos de Deus, caso contrário, a observância externa, puramente ritual, é inútil. Em outras palavras, Jesus nos faz compreender que as normas religiosas são úteis, são boas, mas são apenas o começo: para dar-lhes cumprimento, é necessário ir além da letra e viver seu significado. Os mandamentos que Deus nos deu não devem ser trancafiados nos cofres asfixiantes da observância formal, caso contrário, permanecemos em uma religiosidade exterior e distante, servos de um “deus patrão” e não filhos de Deus Pai”, declarou.
E continuando sua fala, o papa afirmou que ainda hoje acontece essas situações. E esclareceu:
“Às vezes, por exemplo, ouvimos: “Padre, eu não matei, não roubei, não fiz mal a ninguém… “, como se dissesse: “Eu estou bem”. Aí está a observância formal, que se contenta com o mínimo indispensável, enquanto Jesus nos convida ao máximo possível. Lembremo-nos: Deus não raciocina por cálculos e tabelas; Ele nos ama como um enamorado: não ao mínimo, mas ao máximo! Ele não nos diz: “Eu te amo até um certo ponto”. Não, o amor verdadeiro nunca é até um certo ponto e nunca se dá por satisfeito; o amor vai além, não pode passar sem ele. O Senhor nos mostrou isto dando sua vida na cruz e perdoando seus assassinos. E ele nos confiou o mandamento que lhe é mais caro: que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou. Este é o amor que dá cumprimento à Lei, à fé, à vida!”, explicou.
E mais uma vez perguntou: “Como eu vivo a fé? É uma questão de cálculos, de formalismos, ou é um caso de amor com Deus? Estou satisfeito por não fazer o mal, por manter a “fachada”, ou tento crescer no amor por Deus e pelos outros? E, de vez em quando, eu me pergunto sobre o grande mandamento de Jesus, me pergunto se amo meu próximo como Ele me ama?”
“Pois talvez sejamos inflexíveis no julgamento aos outros e nos esqueçamos de ser misericordiosos, como Deus é conosco”, ressaltou.
Ao final, o papa pediu a Nossa Senhora que “nos ajude a cumprir nossa fé e nossa caridade”.
Fonte: ACI Digital