“A iniciativa no sacrifício de Jesus Cristo provém de Deus. Cristo não é um dom que nós homens oferecemos para um Deus indignado. Ele é o descer de um Deus misericordioso que se inclina para nós; o Senhor se faz para nós de escravo. Ele vem ao nosso encontro e em Cristo mendiga, por assim dizer, a reconciliação com o Pai. Em Peregrinação, Cristo veio ao nosso encontro, seus filhos não reconciliados; saiu do templo de sua glória para reconciliar-nos.”
No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre “Eucaristia, coração da Igreja” .
“A Eucaristia é «fonte e cume de toda a vida cristã», diz o Catecismo da Igreja Católica. «Os restantes sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa». «A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia. Nela se encontra o cume, ao mesmo tempo, da ação pela qual Deus, em Cristo, santifica o mundo, e do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por Ele, ao Pai». Enfim, pela celebração eucarística, unimo-nos desde já à Liturgia do céu e antecipamos a vida eterna, quando «Deus for tudo em todos».
No programa de hoje deste nosso espaço, padre Gerson Schmidt* nos fala sobre “Eucaristia, coração da Igreja”:
“O Evangelista João narra dois grandes momentos da paixão e sofrimento de Cristo: a narrativa do lava-pés e a comovente abertura do lado de Jesus. Pelo Evangelho joanino, Jesus morre no mesmo momento em que eram imolados os cordeiros sacrificais para a festa da Páscoa. Portanto, Jesus é o verdadeiro cordeira pascal. Por isso, cessam os outros sacrifícios. Para o lado de Jesus que foi aberto, João usa a mesma palavra que se encontra na narrativa da criação de Eva, palavra que comumente traduzimos por “costela” de Adão. Jesus é o novo Adão, que desce no sono da morte e de seu lado aberto nasce a nova humanidade, a nova criação, nasce a nova Eva, a Igreja, os sacramentos.
As palavras da Última Ceia não bastam por si só. Encontram realização em sua morte real, na sexta feira da paixão. Caso contrário, permaneceriam numa pretensão não realizada. A morte permaneceria vazia também se não houvesse a Ressurreição. O amor de Cristo é suficientemente forte para impulsionar a morte. A Eucaristia, portanto, é mais do que simples refeição sagrada; o seu preço foi uma morte. A Eucaristia chega até a profundidade da morte. Ela chega até o mais profundo abismo, que se chama morte e abre a estrada que introduz aquela vida que supera a morte. Por isso é utilizada a palavra “sacrifício”. A Eucaristia é atualização do sacrifício sobre a cruz de Jesus Cristo. Não cabe a ideia aqui de sacrifício como se fazia no Templo, daqueles que ofertam algo para receber de Deus, como numa troca comercial, porque Cristo é o doador de todos os dons. Deus mesmo nos doa para que nós nos tornemos capazes de doar. A iniciativa no sacrifício de Jesus Cristo provém de Deus. Cristo não é um dom que nós homens oferecemos para um Deus indignado. Ele é o descer de um Deus misericordioso que se inclina para nós; o Senhor se faz para nós de escravo. Ele vem ao nosso encontro e em Cristo mendiga, por assim dizer, a reconciliação com o Pai. Em Peregrinação, Cristo veio ao nosso encontro, seus filhos não reconciliados; saiu do templo de sua glória para reconciliar-nos.
Cristo resgata a história da Salvação. Abraão doa um cordeiro que Deus providenciou, que estava preso num arbusto de espinhos. Jesus Cristo é o cordeiro providenciado por Deus que leva a coroa de espinhos de nossa culpa; que entrou nos espinhos da história do mundo para doar-nos aquilo que nós, por nossa vez, podemos doar. É o Deus que doa seu filho para que nos possamos também doar. Essa é a essência do sacrifício Eucarístico, do sacrifício de Jesus Cristo. Não valem mais as outras ofertas. Tem valor um espírito contrito. Possa, portanto, nossa oração valer mais que milhares de cordeiros gordos.
Na ceia da Páscoa Judaica, o chefe de família faz a narrativa do memorial da libertação do Egito. Esse memorial, narrado pelo pai de família, é chamado de Passahaggada. Não é só uma história passada, mas exaltando a presença de Deus que nos sustenta e nos guia, cujo agir está presente na atualidade. Nessa ceia pascal se deixava a porta aberta para a chegada do Messias. Jesus Cristo, nas palavras da última ceia também realiza seus Passahaggada. A narrativa adquiriu um centro totalmente novo. Transformou sua palavra em ação. Fecha a porta pascal porque ele é o Messias esperado. Mas também deixa aberta para sua volta no final dos tempos. Sua palavra se torna a nossa palavra, a sua adoração a nossa adoração, o seu sacrifício o nosso sacrifício.”
*Padre Gerson Schmidt, ordenado em 2 de janeiro de 1993 em Estrela (RS), também é graduado em Jornalismo e Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Fonte: Vatican News
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