Passou o Natal. Já não se ouve o cântico dos Anjos aos pastores:”Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! (Lc 2, 1) Quem se lembra do fulgor da estrela que guiou os Magos até Belém? “Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.”(Mt 2,2)
Que resta do Natal, que para a maioria não foi senão a festa de uma noite de comedoria e presentes?
Pobres de nós criaturas humanas, tão fáceis para nos sensibilizar com imagens e símbolos, e tão dificeis em nos mergulharmos no mistério!
O nascimento de Jesus é, antes e acima de tudo, “mistério”. Não no sentido “de que não pode ser entendido”, mas no sentido de que “deve ser pensado, sentido e amado à luz da fé.” O nascimento de Jesus-Homem é o nascimento do Homem-Deus e de cada homem em Deus e para Deus. É o nascimento de Deus que assumiu a realidade de “nosso ser humano”. Jesus é o menino, o jovem, o homem feito, que a Divindade do Filho Deus assumiu para sempre em si mesmo.
Um fato se deu na história dos homens: Deus se fez homem! E, como conseqüência, a natureza humana (toda e qualquer criatura humana) foi assumida em Deus para ser de Deus.
O evangelho de João expressou isto em frases cintilantes: “No princípio existia o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.””(Jo 1,1 e 2) E no versículo 14: “E o Verbo se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que ele recebeu de seu Pai como Filho único cheio de graça e de verdade.”(Jo 1,14)
Verbo é um termo grego que significa a sabedoria divina (em grego Logos), a Palavra (em latim Verbum). É este Verbo, Sabedoria de Deus, Filho único de Deus, Palavra de Deus, que se fez carne, assumiu a natureza de todos nós, para nunca a deixar.
Diziam os teólogos tomistas: Quod semel assumpsit nunquam dimissit. O que Ele uma vez assumiu, jamais deixou.
Assim, o Verbo divino, o Filho de Deus, Palavra de Deus, que foi menino no Natal, cresceu, tornando-se homem feito, como disse o evangelista Lucas, e é sempre Deus-conosco. “O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele.”(Lc 2, 40)
É isto o Natal mistério, que se propõe à nossa fé. Não é símbolo, não é imagem da festa que passa. É Deus que fica, que nos ama, que está sempre conosco.
Natal é uma realidade nova na história do mundo: Deus assumiu, em seu ser, a nossa natureza humana. Para que? Para que possamos ser salvos do pecado que reina no mundo e, um dia, para sempre, possamos contemplar a Deus no céu.
Jesus não passou simplesmente na história. Jesus está vivo entre nós. É e será sempre a presença do único Deus da História.
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