“Temos, por advogado, junto ao Pai, Jesus Cristo, que é justo e santo; porque é a vítima de propalação por nossos pecados” (I Jo., 2, 1).
De certo é consoladora garantia de nossa Salvação, termos por advogado o próprio Filho de Deus, o Juiz dos vivos e dos mortos! Mas onde e quando Jesus Cristo desempenhou este ofício?
A Igreja ensina ser Ele nosso advogado não somente no céu, mas também na terra.
Eis a doutrina de Suarez: “Cada vez que o santo Sacrifício da Missa é oferecido, Jesus Cristo intercede por quem o oferece e também pelas pessoas em cuja intenção é oferecido” (Tom. 3, disp. 79, sect. 21).
S. Lourenço Justiniano descreve assim a maneira de orar de Nosso Senhor: “Enquanto o Cristo é imolado sobre o altar, clama a seu Pai e mostra-lhe suas chagas para preservar os homens da condenação eterna”.
Este zelo do Sagrado Coração pela nossa salvação foi indicado por Lucas: “Jesus subiu ao monte para fazer oração, onde passou a noite, orando a Deus”.
E noutro lugar: “De dia, ensinava no templo, e de noite, retirava-se à montanha, chamada das Oliveiras”. Ou então: “Foi segundo seu costume, ao monte das Oliveiras, para nele orar”.
Isto diz, claramente, que Jesus tinha o costume de passar a noite em oração. Durante sua peregrinação, cada um de seus atos era acompanhado da oração; no término desta santa vida, o adeus aos discípulos foi a oração suprema do Sumo Sacerdote por excelência; suspenso na Cruz, orava por seus inimigos e, quando chegou o momento de voltar ao Pai celeste, levantou a mão sobre os discípulos, em uma última bênção, e subiu ao céu, onde seu Coração continua a interceder pelo gênero humano.
Ora, na santa Missa, Jesus dirige a seu Pai todas estas orações reunidas; mostra-Lhe as lágrimas, os gemidos que as acompanharam; enumera as noites passadas em jejum e oração; oferece todos esses méritos pela salvação do mundo, particularmente por cada um dos que assistem à Missa. Ó Deus, que eficaz oração! Como o perfume do incenso, eleva-se para o Pai celeste, para o trono da Santíssima Trindade! Jesus Cristo não ora somente, imola-se também pela salvação do mundo.
Santa Gertrudes explica este mistério do seguinte modo: “Vi, na elevação, Nosso Senhor erguer, com as próprias mãos e sob a forma de um cálice, o dulcíssimo Coração que apresentou a seu Pai. Imolou-se então em favor de sua Igreja, de maneira incompreensível à criatura”. Jesus isto confirmou, quando disse a Santa Matilde: “Eu somente sei e compreendo, perfeitamente, como me ofereço cada dia a meu Pai pela salvação dos fiéis; nem os Querubins nem os Serafins nem as Potestades podem concebe-lo inteiramente”.
Notai que Nosso Senhor não se oferece na santa Missa com a majestade que tem no céu, porém em uma incomparável humilhação. Do abismo de sua humildade, a voz eleva-se-lhe tão poderosa para o céu que traspassa as nuvens e atinge o trono da misericórdia.
Quando o rei de Nínive teve conhecimento dos castigos que ameaçavam a cidade no prazo de quarenta dias, levantou-se do trono, despiu as vestes reais, cobriu-se de roupas de luto, deitou cinza sobre a cabeça e pediu a todo o povo que implorasse a misericórdia divina.
Por esta humildade e esta penitência, o rei pagão obteve perdão para si e para a cidade culpada.
Que não obterá Jesus Cristo, que se humilha muito mais na santa Missa, em que, deixando o trono de sua glória, reveste as pobres aparências do pão e do vinho e clama ao Deus de misericórdia: “Graça e perdão para meu povo! Meu Pai, considera minha abjeção; eis-me aqui diante de Vós, não como um homem, mas semelhante a um verme da terra. Os pecadores levantam-se contra Vós cheios de orgulho. Eu me humilho em Vossa presença. Eles Vos irritam, eu, por meu aniquilamento, quero aplacar-Vos. Eles clamam sobre si Vossa justa vingança, eu quero desvia-la por minhas instantes súplicas. Tende piedade deles por amor de mim, meu Pai, e não os castigueis à medida de suas iniqüidades. Não os entregueis a Satanás, porque são meus, resgatei-os com o preço de meu Sangue. E, Pai Santíssimo, imploro, sobretudo, a Vossa misericórdia em favor dos pecadores aqui presentes, pelos quais renovo, durante esta Missa, minha vida e minha morte. Dignai-Vos, em virtude de meu Sangue e de minha morte, preservá-los da morte eterna”.
Oh Jesus, até onde vos arrasta o amor para conosco e por que meio poderíamos melhor corresponde-lo senão assistindo, cheios de piedade, à santa Missa?
Quando o divino Salvador se achou suspenso na Cruz, recomendou a seu Pai os fiéis que estavam no pé da árvore da Salvação e lhes aplicou, mui especialmente, os preciosos frutos. Do mesmo modo, ora pelos assistentes, principalmente pelos que recorrem à sua mediação. Ora por eles tão ardentemente, como o fez no momento de sua morte, pelos seus inimigos.
Oh poderosa oração! Quanto não fortifica a esperança da vida eterna, vermos o mesmo Filho de Deus tomar nas mãos os interesses de nossa salvação!
Se a Santíssima Virgem te aparecesse e dissesse: “Não temas, meu filho, prometo-te encarregar-me de teus interesses; pedirei, instantemente, a meu Filho, Jesus Cristo, e não cessarei de pedir até que Ele me assegure tua felicidade eterna”, a tua alma não ficaria transportada de júbilo e não exclamaria: “Agora estou consolado, não tenho que duvidar, minha salvação está segura”?
Se temos, pois, uma tão grande confiança na intercessão de Maria Santíssima, por quê esta confiança não será absoluta, quando se trata da intercessão de seu divino Filho, que não promete somente o socorro, mas ora por nós em cada Missa que ouvimos, e faz, por assim dizer, violência à Justiça de Deus, para nos poupar o castigo merecido?
E não era somente. Com ele intercedem, como outras tantas vozes, suas lágrimas, suas chagas, seu sangue, todos os seus suspiros de amor. Quem poderá medir o efeito dessas súplicas sobre o coração do Pai celeste?
Muitas vezes te lastimas da falta de fervor em tuas orações. Na santa Missa, Jesus Cristo orará contigo e suprirá a imperfeição de tua oração. Escuta como convida a todos afetuosamente:
“Vinde a mim vós que sofreis e vos achais em tribulações” (Mt. 11, 28); isto é: vós todos que não podeis orar com ardor, vinde a mim e orarei por vós. Por quê, alma aflita e atribulada, não te rendes a este tão terno convite? Por que não corres à santa Missa?
Em tuas tribulações recorres a amigos para pedir-lhes uma oração. Que é, todavia, a oração dos homens comparada com a oração e intercessão de Jesus Cristo? Tua miséria é extrema, o perigo de tua condenação, iminente. Dize, pois, a Jesus: “Senhor, quem poderá salvar-se?” e Ele responder-te-á: “O que é impossível aos homens é fácil a Deus”.
Recorre, pois, a este Deus Salvador que quer te assegurar uma morada na casa de seu Pai.
“Como?, talvez digas, um pobre indigente como eu, pode reclamar as orações do Filho de Deus? Sou indigno disso, e não o ousarei”. – oh, não fales deste modo! Convence-te que um só de teus suspiros te dá todo o poder sobre seu Coração. São Paulo o afirma: “O pontífice que temos, não é tal que não possa compadecer-se de nossas fraquezas, porque todo o pontífice é tomado dentre os homens e é estabelecido para os homens no que diz respeito ao culto de Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados”.
Jesus Cristo é pontífice, exerce o sacerdócio na santa Missa, sua missão é, portanto, orar pelo povo e oferecer o sacrifício por ele; e não se desobriga desta missão por todos em geral, mas por cada um em particular; assim como sofreu por todos e por cada um, assim se interessa por cada alma de tal sorte, como se fosse a única a salvar.
Eis o zelo, o poder da oração de Jesus no santo altar. Juntemo-lhe nossas pobres súplicas e elas se tornarão excelentes. “As orações feitas em união com o Santo Sacrifício da Missa, disse o bispo Fornero de Hebron, são mais poderosas que todas as outras, mesmo do que as que duram longas horas, e até as orações extáticas, por causa da paixão e morte do Senhor que lhe manifestam a eficácia na santa Missa, por uma admirável efusão de graças. Porque, como a cabeça ultrapassa, em dignidade, todas as outras partes do corpo, assim a oração de Jesus Cristo, que é nossa cabeça, ultrapassa as orações de todos os cristãos, que são os membros de seu corpo místico.
Uma moeda de cobre torna-se preciosa, se é lançada no ouro em fusão; a pobre oração do homem, unida à de seu Salvador, adquire um caráter de alta nobreza e pode ser ofertada como um dom agradável à divina Majestade. Deste modo, uma oração menos fervorosa, oferecida na Missa, vale mais que uma oração fervorosa feita em casa.
Muitos se prejudicam os que, podendo assistir à santa Missa e, durante esta, ocupar-se com os exercícios de piedade que costumam fazer em casa, se afastam do santo Sacrifício. Porque, se fizessem as orações durante a santa Missa com a intenção de assisti-la e somente durante os momentos da consagração interrompessem as orações, a fim de adorar o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor, ganhariam graças e méritos muito maiores do que se rezam em seu oratório particular.
Fonte: Veritatis Splendor